Mexendo No Que Está Quedo

Chegaste ventando, 
Bafejo de dor incubada, de infarto, de tensão.
Chegaste fora de ensejo 
Farfalhando uma vida (a minha) desconjugada da ilusão. 
Assim, nem te recebo em graças 
E com meus braços,
Em movimento contrário ao meu querer,
Fecho minhas janelas para ti. 

Chegaste soprando, 
Aragem de vício, de inflamação, de abscesso. 
Chegaste em hora defasada 
Remoinhando uma vida (a minha) de prazeres em recesso. 
Assim nem te aceito em dádiva 
E com a musculatura facial 
Mentindo descaradamente 
Pungentemente 
Fecho meus lábios para ti. 

Chegaste em brisa, 
Morna monção de vitalidade, de descalabro, de remissão. 
Chegaste, porém, tarde, fora do meu prazo de validade 
Turbilhionando uma vida (a minha) demissionária da paixão. 
Assim, nem te acolho em remanso 
E com os pés,
Despudoradamente gritando em tua direção,
Resignadamente,
Tomo trilha oposta a tua. 

Mortificado, te recuso 
(Não irei mesmo nem mais tocar em ti), 
Ternamente, te agradeço. 
Em silêncio, sem que nunca saibas, te agradeço. 
Sempre de modo afetuoso, lembrarei de ti 
(Ainda que não sem as leves fisgadas daquela dor: 
Mansa, aguda e difusa, que me acompanha desde que te conheci). 
Serás secretamente minha última paixão. 
Paixão. 
Irrealizada: para que se perpetue como paixão.

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7 Comentários

  1. Puta poema, dureza é saber do que são feitos os melhores textos.
    "J"

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  2. Azarão, mto lindo, mas remete à idéia de mto sofrimento! Edésia

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  3. Cara, além de ser mesmo um puta poema, você brilhou no título (o quedo foi genial). JB

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    1. Quedo... nem sei de onde isso me veio, mas também gostei muito. É do nosso tempo.

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