Nada como uma proposta irrecusável ao fim de mais um dia de trabalho, rotineiro e repetitivo. Para nos animar. Para inflar, feito pó Royal, o nosso ego.
Quando vou - e volto - do trabalho, e quem lê regularmente o Marreta sabe que cubro a pé os quase 5 km de percurso, quase que uma légua tirana, passo pelo centro velho da cidade e por sua famosa baixada. Cruzo, inclusive, o cansado, porém, persistente, rio que deu nome ao município, e cujas margens nada plácidas ouvem o brado dissonante e ensurdecedor dos veículos, dos latidos dos cachorros vadios, do chamado dos vendedores ambulantes.
As mesmas margens abrigam a horrenda rodoviária - a mais feia que eu já vi até hoje -, o charmoso Mercadão Municipal, perfumado por seus queijos a curar, suas pimentas em conserva, especiarias in natura, fumo de rolo etc (se você conseguir abstrair e ignorar as pessoas que por ele circulam, é um bom lugar para se visitar e comer seu enorme pastel de carne seca) e, lógico, como em toda baixada que se preze, a clássica ZBM, a zona do baixo meretrício. Quase uma dezena de bares destinados ao entretenimento adulto se concentram em três de seus quarteirões ribeirinhos. No piso superior dos bares, ou por detrás de portas laterais a eles, que se abrem para longos corredores, estreitos e escuros e ponteados por inúmeros aposentos, estão os abatedouros, o suadouros, os quartos da furunfa. Encimando uma dessas portas, há uma plaqueta, de fundo preto e letras cor de bronze, onde se pode ler : residência familiar. Tá certo. É tudo puta de família. Puta também tem família, ora porra.
Quando passo na ida para o trabalho, por volta das 06 e 30 h, já tem um cara, o balconista de um dos bares, lavando o chão e arrumando as mesas. Quando retorno, por volta das 13 h, o funcionamento da ZBM já está a todo vapor. De vento em popa. Em popas, em grandes, gordas e flácidas popas. Todas tomando um ar, arejando as partes, mal cobertas por saias residuais; nem saias são, são abajures de perereca.
Acredito que o seleto ambiente comece as suas funções entre oito e nove horas da manhã. Abre mais cedo que praça de alimentação de shopping center. E tem lá a sua lógica, afinal, não deixa de ser uma espécie de fast food. O cara tá à toa, de bobeira, passa lá rapidinho e curte um McLanche Feliz. É o drive-thru da buceta.
E se pensam que as meninas ficam se oferecendo de forma ostensiva, que ficam cercando e laçando clientes nas calçadas, estão muito enganados. São muito respeitosas para com os passantes, orgulhosas, até. Sentam-se às entradas dos bares e ficam na delas, fumando um cigarrinho, tomando uma cervejinha em copo americano Nadir Figueiredo, ouvindo músicas de desilusões amorosas, Odair José, Amado Batista e outros que tais. Só se manifestam se forem requisitadas.
Tanto que já passei por ali milhares de vezes (e não exagero nos números, faço esse caminho há 13 anos, ida e volta, todos os chamados dias úteis, que, para mim, são os mais perdidos) e raras foram as vezes em que fui abordado, em que me ofereceram seus préstimos. Mesmo quando eu também lecionava à noite e passava pela baixada na, digamos assim, hora do rush.
Aí, ontem, havia uma a se exibir na calçada por onde eu estava a passar. Idade que julguei próxima dos cinquenta anos, mas que, dado o desgaste da profissão, possa se revelar em torno dos trinta. Pele de um moreno escuro e avermelhado, uma provável, ainda que distante, ascendência indígena, reforçada pelos cabelos pretos e lisos. E gorda. Gorda que não era pouca coisa. Tinha umas três barrigas, uma a se dobrar e a se sobrepor à outra, um prédio de três andares de banha. Peitos empacotados e comprimidos pela blusa colante amarela, e que, livres dela, escorreriam até o umbigo, oculto pela banha. Estava com as costas à parede do bar, uma perna esticada a lhe servir de arrimo e a outra dobrada, com o pé na parede. E mordiscava e degustava sensualmente - garanto que é verdade, que não estou inventando nada - um enorme salsichão. Um salsichão mesmo, de verdade, sem nenhuma metáfora. Daqueles salsichões em conserva que ficam boiando em enormes potes de vidro nos balcões, aqueles que, geralmente, ficam ao lado do pote dos ovos coloridos.
Quando passei por ela, para a minha surpresa, ela, sem tirar o salsichão da boca, mandou na lata : - vamu metê?
Vamu metê... Pãããããããta que o pariu!!!
Tamanhos foram o tesão e a volúpia que me tomaram de assalto frente a tanta elegância, sutileza e finesse, sem dizer da beleza e da formosura, que foi difícil me conter. Ainda assim, agradeci-lhe a oferta e segui caminho.
Vamu metê...
É mole? É. E, depois dessa, ficou mais mole ainda!
7 Comentários
Em BH o copo americano Nadir Figueiredo é conhecido como "copo lagoinha",justa homenagem à ZBM onde era largamente usado pelos pinguços que frequentavam bares e puteiros que existiam no bairro Lagoinha.
ResponderExcluirÉ um clássico. Sem dúvidas.
ExcluirCARALEOOOOOOOOOOOOOOOOOO
ResponderExcluirRapaz, eu só lembrei daquele trecho do Buk e da gorda
"J"
A diferença é que o velho Buk teria encarado. E saído sem pagar.
ExcluirEsse marreta não gosta de mulher.
ResponderExcluirRecusou uma metidinha de uma garota cheia de amor pra dar.
Tô achando que o Ex-boiola tem razão em seus comentários.
Marcelo.
quer comer? te dou o endereço.
ExcluirSão as legítimas mulheres venenos: Comeu, morreu!
ResponderExcluir