Leão Broxa é Linchado Por Fêmeas

O título dessa postagem, que bem poderia ser manchete de primeira página do Notícias Populares do Zoo, não é puro sensacionalismo, não. É fato verídico. Ou, fato venéreo, como diria Paulinho Gogó. E não deixa mesmo de ser, afinal venéreo tem origem em Vênus, a deusa que comanda as coisas do amor.
Quem acha que a vida do Leão, o rei das selvas (o mais adequado seria dizer das savanas, mas enfim...), é um mar de rosas, está absolutamente certo. Ter todas as fêmeas do bando só para si. Para trepar quando bem lhe aprouver, para ser paparicado por elas, para que elas cacem para seu amo e senhor o pernil de zebra nosso de cada dia... Só não é um eterno mar de rosas.
Toda essa mamata e mordomia duram pouco. O mandato de um leão dura de quatro a cinco anos, no máximo.
Pois é, meu amigo, a Natureza não é repartição pública. Macho alfa não tem estabilidade assegurada. Nem pode concorrer à reeleição. Prevaricou, a Natureza exonera. Taca-lhe um impeachment na hora.
O sultanato de um leão alfa começa, via de regra, por volta de seus cinco anos de idade e se estende até os dez, intervalo que compreende o auge da força e da virilidade do bicho. Antes de concorrerem a donos do pedaço, os leões jovens, sem direitos às fêmeas, fazem troca-troca de montão. Não tem tu, vai tu mesmo. Uma viadagem de fazer inveja aos antílopes e às gazelas. Findo o reinado, ou ele já morre logo em seguida, em virtude dos ferimentos do combate que o depôs, ou, banido do grupo, erra e vaga sozinho pela vastidão africana, diminuindo suas chances de sobrevivência e morrendo poucas semanas ou meses depois, na solidão, no exílio, na vergonha.
Pois é, meu amigo, macho alfa não tem carteira assinada pela Natureza nem direitos trabalhistas. Não tem FGTS, seguro desemprego, muito menos aposentadoria. E nem enriquece depois, ganhando milhões a proferir palestras pelo continente selvagem.
Isso, é claro, na Natureza. Em cativeiro, a vida do leão pode ser, embora tediosa, mais longa e mansa : há notícias de leões que chegaram aos vinte, vinte e cinco, trinta anos. Mas se tem leão por ai pensando que o zoológico é aposentadoria de felino malandro, pode também dar com os burros n'água.
Acontece que a Natureza sempre encontra uma maneira de bater com o pau na mesa e pôr ordem na casa. Mesmo quando é deixada de fora da festa, mesmo quando, feito Baby Consuelo na Disneylândia, é barrada na entrada do zoo. A Mamãe Natureza conta com os instintos que bem programou em suas crias para assegurar o seu sagrado equilíbrio.
O leão Kenya, ilustre morador do Knowsley Safari Park, em Merseyside (Inglaterra), foi vítima dessa cláusula pétrea da Natureza. Kenya, que já era um senhor de 18 anos de idade e tinha como certa a vida mansa que levara até então, foi morto por suas fêmeas. Por estar velho demais.
As fêmeas pegaram Kenya de porrada, em linchamento. Os funcionários do zoo agiram rápido e, indo contra o ditado em que em briga de marido e mulher ninguém mete a colher, conseguiram separar os animais. Mas era tarde para o velho Kenya. As fêmeas foram implácaveis. Infligiram-lhe tal sorte de ferimentos que não restou outra alternativa ao zoo que não fosse a de sacrificar Kenya, que submetê-lo à eutanásia.
O porta-voz do parque disse que o ataque de leoas contra leões que já não podem cuidar delas e da prole não é incomum entre felinos.
Mesmo que, em cativeiro, os dotes protetores e caçadores de Kenya não se fizessem necessários à boa vida do bando, as fêmeas foram intransigentes. Elas passavam todos os dias e viam lá o Kenya, deitadão, roncando, a outrora juba basta e brônzea já grisalha e esparsa, uma barriguinha a se pronunciar, e aquele pinto mole a pender do meio das pernas. Não tiveram dúvidas : lincharam o pobre broxa.
Ingratidão : teu nome é mulher. Não tiveram a menor consideração por todas as boas fodas que Kenya, ao longo de seus anos de pujança, proporcionara a elas. Não levaram em conta a honra que foi servir ao seu macho alfa durante tanto tempo. Não serviu de atenuante a Kenya nem os filhos que ele dera às putas, Kenya lhes concedera a dádiva de poderem exercer a sua sagrada função biológica, a de serem mães.
Nada. Nada disso livrou a cara do leão broxa. A Natureza não perdoa pau mole.
Já pensou se essa moda também pega entre os humanos, caro Jotabê?
Pããããããta que o pariu!!!!!
Eis Kenya, o injustiçado.

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6 Comentários

  1. Ahhhh e ainda digo mais, nesse caso tá mais que comprovada a culpa exclusiva da vítima.
    "J"

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  2. O Aquiles pode não ter dito isso, mas eu digo: meus calcanhares estão bem defendidos. Traduzindo do grego clássico para o jotabês vulgar, isso significa que não sou leão, pois não tenho juba nem paumolescência.

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  3. Tá preocupado, hein?
    A paumolescencia chegou e se estacionou aí, não é?

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