Fui ao mesmo dentista
Durante trinta e dois anos,
Ao mesmo barbeiro
Por vinte e três.
O primeiro,
Troquei há quatro anos
(e os dentes vão bem e obrigado, amarelos e tortos como sempre)
O segundo,
Há dois
(e o cabelo está no ponto de viragem do charmoso azul-grisalho para o senil branco-paina; continuo lavando-o só a sabonete e penteando-o com os dedos).
E foi fácil.
Nenhum remorso
Nenhuma estranheza
Nenhum esforço de adaptação
Nenhum telefonema comunicando o rompimento.
Somos muito menos fiéis
Do que, às vezes, pensamos ser
Do que gostamos de nos considerar
Do que a imagem de nosso espelho interno.
Quase sempre, na verdade.
E tomo o primeiro gole do dia
E ofereço em sacrifício ígneo
A alma de um incenso de cravo.
Um rito de praga e maldição
À minha megalomania desmascarada.
2 Comentários
Muito bom, mas é impressão minha ou a praga dos cinquenta te afetou? Você agora é envelhescente? Espero que meus textos não tenham culpa de nada.
ResponderExcluirNão me afeta do jeito que parece, não. Sabe aquela história do fingidor? Pois é...
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