A Justiça Federal em São Paulo condenou a Rede Bandeirantes e o apresentador José Luiz Datena a prestarem esclarecimentos à população sobre a diversidade religiosa e a liberdade de consciência de crença no Brasil. Terão que se retratar por ofensa aos ateus.
Durante a exibição de uma reportagem sobre o fuzilamento de um garoto, no
dia 27 de julho de 2010, Datena afirmou que tal ato só podia ser coisa de um ateu : "Um sujeito que é ateu não tem limites e é por isso que a gente vê esses crimes aí". Dirigindo-se ao repórter Márcio Campos, Datena relacionou o crime à "ausência de deus" : "Márcio Campos, é inadmissível. Você que também é muito católico, não é
possível, isso é ausência de Deus, porque nada justifica um crime como
esse, não?".
E fecha com chave de bosta ao creditar todos os males do mundo - fome, guerra, peste etc - aos ateus : "É por isso que o mundo está essa porcaria. Guerra, peste, fome e tudo
mais, entendeu? São os caras do mal. Se bem que tem ateu que não é do
mal, mas o sujeito que não respeita os limites de Deus não respeita
limite nenhum".
Ora, que Datena é um sensacionalista que vive às custas da desgraça alheia, um papa-defunto midiático, todo mundo sabe, mas eu, em minha infinita bondade, muito maior que a de deus, que não existe, considerava que ele fosse um pouco menos burro, um pouco. Ele não é.
Vejam em que tamanha contradição a burrice e a intolerância de Datena o encalacraram, vejam em que sinuca de bico a sua fé ilógica e fundamentalista o colocou.
Datena atribui todas as desgraças humanas à "ausência de deus". Como assim, Datena, ausência de deus? Você não diz que seu deus é onipotente, onisciente e onipresente? Para mim, onipresente significa estar em todos os lugares do universo conhecido, em todos os lugares físicos e em todos os seres vivos, em cada uma de suas células, nos pensamentos, nos atos, na alma, no coração.
Não é essa a ladainha que os religiosos, que as pessoas que têm o cérebro apenas como contrapeso da cabeça vivem a recitar? Se o seu deus existe, Datena, e é onipresente, ele estaria, em teoria, inclusive em mim, que sou ateu, independente de eu crer ou não.
Logo, Datena, as guerra, fome e peste por você citadas não são "ausências de deus" (como alguém onipresente pode estar ausente?), elas são, pelo exato oposto, resultados da presença de deus, da presença maciça do conceito de deus, de um deus vingativo, canalha e intolerante.
Deus, caro Datena, supondo-o real e dotado dos poderes que a ele atribuem, está presente, sim, no dedo do cara que puxa o gatilho, na dureza "ateia" do metal da bala que suplanta as resistências da pele e dos ossos da vítima devota. Deus, caro Datena, está presente, sim, no pau duro do estuprador que sangra a carne macia da mulher pega à covardia, mulher que, durante sua violação, não viu sinal de nenhum deus vindo em seu socorro.
Ateus matam? Sim. Mas não por serem ateus. Por serem assassinos, simplesmente. Muito mais já se matou em nome da crença em um deus do que pela descrença nele. Existem muito mais assassinos crentes que descrentes, Datena.
Acreditar em deus não estabelece limite algum a quem pense em cometer um crime; pelo contrário, só torna esse limite mais flexível, afinal, o criminoso cristão conta com o perdão infinito de seu deus. Matar é muito mais fácil quando se acredita em deus, Datena. Não acreditar em deus, não contar com o perdão do padre para aplacar sua consciência, acredite, coloca limites muito mais rígidos.
(De mais a mais, será que é mesmo necessário um ser superpoderoso para nos dizer, entre outras coisas, que matar é errado? Será que as pessoas não são capazes de perceber isso por conta própria, de não cometerem tal ato por uma simples questão de consciência, e não por medo da vigilância de algum deus? Não, pelo visto não. Os religiosos, se não cometem atos maus, em sua maioria, não é porque são pessoas boas. Se não cometem atos maus, é pelo medo de deus, o Big Brother do universo. O religioso, em sua maioria, não é bom ou honesto por natureza : é medroso, é cagão.)
(De mais a mais, será que é mesmo necessário um ser superpoderoso para nos dizer, entre outras coisas, que matar é errado? Será que as pessoas não são capazes de perceber isso por conta própria, de não cometerem tal ato por uma simples questão de consciência, e não por medo da vigilância de algum deus? Não, pelo visto não. Os religiosos, se não cometem atos maus, em sua maioria, não é porque são pessoas boas. Se não cometem atos maus, é pelo medo de deus, o Big Brother do universo. O religioso, em sua maioria, não é bom ou honesto por natureza : é medroso, é cagão.)
Caso a decisão judicial não seja cumprida pela emissora, a Band arcará com uma multa diária de R$ 10 mil. A decisão foi das mais acertadas, não o seu alvo, porém. O apresentador José Luiz Datena é quem deveria sentir a facada no bolso, não a emissora. É Datena quem deveria sentir o peso da justiça dos homens.
Uma boa porrada dada pela justiça dos homens é o mais amargo remédio para aqueles que, feito Datena, julgam-se mandatários da justiça divina.
1 Comentários
Como sempre... um comentário genial!!
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