O Louco da Praça

Acredito que todos conheçam a figura universal do louco a pregar em praça pública. Do menor vilarejo à mais monstruosa metrópole, o louco está lá, a discursar nas praças, às árvores, aos pombos e aos bustos em bronze.
A fazer suas profecias apocalípticas, a recitar evangelhos, a prever castigos divinos e a vociferar pragas e maldições sobre a humanidade.
A grossa maioria dos passantes não lhe apercebe mais que a um banco quebrado da praça, que a um canteiro malcuidado, que ao lixo ao chão. Alguns zombam e riem do louco. Outros ainda dedicam um milésimo de segundo de seus tempos para pensarem sobre as causas, sobre os atropelos da vida que puderam tê-lo reduzido àquela situação, condoem-se rapidamente dele.
Mas o louco da praça continua lá, falando a todos e a ninguém.  Inebriado de sua própria voz. E se um dia o louco cair em si? Perceber que ninguém lhe dá ouvidos? Sua voz e suas crenças lhe bastarão?
Neste momento, eu estou em sala de aula. Falando a todos e a ninguém. Lisossomos, mitose, Darwin, níveis tróficos, genes alelos.  Dizem e significam tanto e nada quanto qualquer evangelho.
Neste momento, eu estou em sala de aula. Eu sou o louco da praça. Mais desequilibrado que ele : sei que ninguém me dá ouvidos.

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26 Comentários

  1. Eu sempre me espanto com esse pessoal, geralmente com uma Bíblia ensebada na mão. Uma coisa eu tenho absoluta certeza: nenhum deles é católico, pois católico é um fiel meia boca, que quando vai à missa dá dois reais de esmola ou entrega uma nota de maior valor mas espera o troco. E gostei da imagem do professor, um joão batista clamando no deserto das atenções dos alunos.

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    1. Mês passado saiu uma pesquisa mostrando que apenas 8% dos católicos brasileiros têm o hábito regular de ir à missa.
      https://osaopaulo.org.br/destaque/pesquisa-revela-em-quais-paises-a-frequencia-as-missas-e-maior/

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    2. Muito me admira o senhor lendo "O São Paulo"!. Mas é realmente engraçado ver o lugar do Brasil na pesquisa. Brasileiro só vai à missa na Semana Santa. Eu continuo a ir à missa aos domingos com minha mulher, mas a frequência é constrangedoramente baixa. Talvez apenas um terço da capacidade da igreja seja ocupado. Dias de semana, então... Na igreja do meu bairro devem caber umas quinhentas pessoas assentadas. Nos dias de semana (já contei várias vezes) devem comparecer umas quinze pessoas. à noite devem chegar a trinta. Outra coisa: eu continuo a ler o que publica, mas perdi o tesão de ficar comentando. Se quer saber a verdade, eu comentava em uma espécie de troca, uma ação de "marketing reverso", para que você lesse e comentasse o Blogson. Como ele morreu (e o Linguiça também está próximo disso), não há expectativa de retorno (afinal, você já deve ter lido tudo o que publiquei). Não precisa tornar público este comentário

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    1. Concordo com cada uma de suas palavras. Muito obrigado por elas.
      Abraço .

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    2. @ Pateta:
      Texto muito bom o seu. Já disse em postagens antigas que aprendo e reflito com o azarão e os comentários do pessoal aqui. Que a budega aqui prossiga ainda por muito tempo!
      Sobre o desafio de criar um cidadão preparado para o dias piores que virão, serviu para mim também. Tem momentos em que me questiono se valerá a pena cobrar atenção, esforço e dedicação dos filhos nesta nossa sociedade afeita à preguiça e ao jeitinho, como o sr apontou. O jeito é cair mas roendo o osso.

      Um abraço ao azarão, pateta e todos que frequentam o blog. Bom final de semana e se puderem, com muita cerveja.

      Cássio - Recife/PE

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    3. Também gostei demais do texto do Pateta. E enquanto a ideologia esquerdista permanecer em nossas leis feito metástases, isso não vai mudar. Só piorar.
      Apesar de serem poucos, o que eu mais gosto em manter o blog são justamente os comentários.
      E vamos à cerveja.
      Abraços, meu caro.

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    4. Sigamos o exemplo de MC Pipokinha, meu caro. Não sabe do que/quem estou falando? A ignorância é uma benção. Lembro-me de uma reportagem da Record falando de um ermitão que morava na Mata Atlântica e não sabia sequer quem era Ayrton Senna, muito menos Anitta no final dos anos 2010. Aliás, essa última é um Mozart, um Descartes comparada à criatura abjeta supracitada. Aqui, estou indo de um Chopp Triplo Malte, garrafa 1,5 l por 9,98 na promoção. E por aí, como anda a inflação do lúpulo? Abs e bom fds.

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    5. Rapaz, não faço mesmo ideia de quem ou do que seja esse MC Pipokinha. Vou dar uma olhada.
      E uma garrafa de 1,5 l de uma triplo malte por 10 reais está um preço muito bom muito bom mesmo. Nos botecos aqui perto de casa o litrao da Brahma etc está saindo por 8, 9 reais.
      Nunca vi essa marca de que falou. É boa mesmo?
      Abraço.

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    6. Essa, não "esse". Fiquei pasmo ao ler a letra da "música" "Tira as crianças da sala". Bukowski e você são crianças de jardim de infância no quesito pornografia.

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    7. A Marreta do Azarão11 de março de 2023 às 17:48

      Rapaz, eu e o Bukowski somos uns gentlemen.

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    8. Não lhe conto a melhor. Logo depois de lhe recomendar o chopp triplo malte potiguar, eis que comprei cinco garrafas e todas elas estavam com um gosto de vinagre. Parecia uma cerveja sour... Azeda mesmo, com gosto de vinagre. Postei então uma reclamação no famoso ReclameAqui. E acredite, a empresa me respondeu em menos de meia hora, quando recebi durante o almoço uma ligação do setor responsável pelo controle de qualidade. Perguntaram se eu queria ressarcimento financeiro ou líquido. Obviamente, decidi investir neste último recurso... desde que mantivessem a qualidade mínima do produto que eu tinha experimentado até então. Enfim, se encontrar algo parecido em suas experiências de degustação, terei prazer em fazer o papel de advogado de defesa... Desde que me garanta o mínimo de 30% líquido. Abs.

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    9. Eles vão enviar outras garrafas para você?
      Já ouvi dizer que esse ReclameAqui funciona mesmo.

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    10. Fizeram duas propostas: transferência Pix no valor da compra ou reenvio das garrafas. Bom investidor que sou, pensei logo no retorno líquido do investimento. Porém, o atendente disse que a opção por uma ou outra modalidade depende da proximidade de minha residência de uma fábrica, pois às vezes o frete é tão alto que preferem o ressarcimento.

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  3. Sim, você é o louco da praça e pior, sabe que é. Já me senti assim. A pedagogia (que você tanto critica) me salvou. Agora dou aulas aos pequenos que prestam atenção em tudo o que digo, que interagem comigo e me acham muito legal.

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    1. Se a Pedagogia aplicada desde cedo aos pequenos é tão sublime arte norteadora, se concede aos petizes uma formação de tanta excelência, por quê, nos ensinos Fundamental II e Médio, eles estão tornados em criaturas tão mal-ajambradas moral e intelectualmente? Idiotas plenos tão desrespeitosos e desprezíveis?
      Nunca nos esqueçamos ou percamos de vista : há o Louco da Praça; e há quem bata palmas pra louco dançar.

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  5. Cara, acho que isso varia de local para local, a falta de respeito dos alunos. Em alguns é ruim, em outros é péssimo kkkk.
    Brincadeiras a parte, eu não me vejo dando aula para o pessoal mais novo. Cada vez mais, com o aumento de uso de tecnologias, o pessoal vai ficando menos atento e com menos saco para ver aulas. Além disso, desde muito cedo, as crianças são bombardeadas com vários estímulos e ficam sem saber o que fazer numa sala de aula onde não ocorre nada de fantástico além de aprender um pouco sobre o mundo, que elas creem já compreender sobremaneira.
    Nas escolas públicas ainda existe o fato de o aluno nem precisar estudar para passar direto (acho que isso já transbordou para as particulares), isso faz com que ele pouco se importe com as aulas ou em aprender qualquer coisa. O professor, se vendo nessa situação de merda, também fica desestimulado, até de aumentar seus conhecimentos para transmitir aos alunos (que nem prestam atenção).
    Dar aula assim é quase como fazer oração em voz alta na praça mesmo!!
    Aula, pra mim, só pra ensino superior e pós-graduação. Pelo menos o cara, na maioria das vezes, têm um certo interesse em te ouvir, já que ele mesmo está pagando.

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    1. Você também leciona? Que disciplinas?

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    2. Olá, Marreta. Não leciono não. Mas estou fazendo mestrado em Engenharia e, devo dizer, dar aulas para pós graduação é muito melhor que para faculdade ou ensino médio:
      -qtd de alunos menor (já tive aulas em turmas de 3 alunos)
      -via de regra, ninguém está ali obrigado, quer estar, portanto, prestam atenção no que está sendo dito.
      -Os alunos só se matriculam nos cursos que se identificam, evitando aqueles caras que não querem escutar e ficam badernando ou usando celular na aula.

      Existe uma dificuldade para virar professor de universidade, mas os salários são bons e, depois de uns 2 anos de aulas, entra no automático. Considero um bom emprego.

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    1. Cara, sabe que, apesar de ter feito Biologia voltada para licenciatura, eu nunca consegui ler a obra de um pedagogo do começo ao fim, nem sequer um excerto, um capítulo de 15, 20 páginas. Revira-me o estômago toda aquela embromação, aquele discursar vazio, circunlóquios infinitos e mal-intencionados. Desse senhor, então, o tal do Paulo Freire, acho que mal consegui ler umas poucas páginas até hoje, e do pouquíssimo que li, não lembro porra nenhuma. Só a nocividade de seu cunho esquerdista.
      A prova de que esses pedagogos não dizem nada com nada é que eu nunca os li, mas sempre me saí muito bem nas questões pedagógicas dos concurso que prestei. Acerto a visão de um autor sem nunca tê-lo lido. Sou um gênio? Porra nenhuma. Primeiro que essas questões, geralmente, são precedidos por um pequeno excerto da "obra" do sujeito e eu, felizardo por ter nascido durante o governo militar, fui muito bem alfabetizado, muitas vezes, a resposta está no próprio texto. E quando não está é só escolher a alternativa que está sempre do lado do aluno, que trata o aluno sempre como uma vítima, como um oprimido.
      Numa prova de mérito, para evolução de faixa funcional e acréscimo de umas merrecas no salário, que fiz no Estado, de 20 questões pedagógicas, acertei 19. Sem nunca ter lido nenhum dos autores da bibliografia pedido pelo concurso.
      Aliás, o estado de SP extinguiu as provas de mérito. Sabe por quê? Por interferências dos sindicatos, que consideram errada, discriminatória e excludente a meritocracia. Canalhas.
      Eu, um lorde? Rapaz, é a primeira vez que alguém me chama disso.
      E sim, a boa luta, hoje em dia, é a rendição. Mas ela não me é uma opção, ainda.

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    3. Lendo seu comentário, não pude deixar de lembrar de uma biografia de um rockstar, cuja família cubana se mudou para os EUA. O avô do camarada era um empresário bem sucedido e, assim que Fidel assumiu o poder, removeu-o de sua residência, pois ali moraria um membro do alto escalão do novo governo. Enfim, o cara não queria se rebaixar e decidiu pular fora. Anos depois, conhecendo a história de Fidel, devo dizer que "tenho pena dela e o admiro". Ele teve que assumir para si todo o ônus do capitalismo: muitas amantes, mansões, uma vida nababesca... Tudo isso para dar ao povo o socialismo, acabando com a desigualdade social e jogando todos na miséria. Bem como o Molusco está prestes a fazer com a quebra do teto de gastos. E concordo com você: capitalismo malvadão para a gauche caviar, socialismo para o povo.

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