Eu Não Dou Bom-Dia

As pessoas acordam
Desejando ainda a caverna do urso,
O casulo do bicho da seda,
A hibernação
(poucos são os corpos que se satisfazem com o que lhes é concedido pelo despertador).
Levantam-se
Ansiando ainda pelo reumatismo dos grandes rochedos,
Pela poliomielite dos fósseis,
Pelas prostração
(poucas são as almas que se dispõem a caminhadas, cansaços e suores já pela manhã).
Então, vão:
Às filas das padarias,
Aos cafés fracos e amargos
(repelente ineficaz do sono, da ressaca, do efeito residual do Rivotril),
À vida, por falta do que mais fazer.
Então, vãos :
Ganham as ruas
Em direção a mais um dia perdido 
E ainda sorriem, e ainda dão bom-dia.
De onde vem a força para darem bom-dia?
Eu não dou bom-dia!,
Não só por falta de educação,
Cortesia ou civilidade.
Faltam-me essa estranha força
E um mínimo de nexo e porquê para fazê-lo. 

Postar um comentário

1 Comentários

  1. Tenho em mim um lado que se identifica com a sua escrita. "Então, vãos : Ganham as ruas/Em direção a mais um dia perdido/E ainda sorriem, e ainda dão bom-dia."
    Quase sempre também não dou bom dia e, quando dou, na maioria das vezes, é por civilidade... Entretanto, uma estranha força, inusitada, me toma, de quando em vez...
    Porque (poucos são os corpos que se satisfazem com o que lhes é concedido pelo despertador).
    Muito bom!!!

    ResponderExcluir