Mais uma da série "Eu não preciso ler jornais, mentir sozinho eu sou capaz", ou, "o que a ciência constata hoje, o Azarão sempre soube".
Eu, por várias vezes e em repetidas postagens, sempre desci a marreta no tal do coletivo. Eu desprezo, tenho verdadeira aversão a qualquer atividade coletiva, à manada, ao rebanho, ao bando.
Nada de bom emerge do bando, o bando nada produz, só prolifera sua ignorância, só reproduz sua miséria, e como se reproduzem, os do bando.
Ninguém que faça algo que preste, o faz em bando. A criação é ocupação solitária, a genialidade é atividade ímpar e de isolamento. Alguém pode imaginar Camões a escrever os Lusíadas a quatro ou mais mãos? Ou o Saramago, ou Augusto dos Anjos, ou Ariano Suassuna? Van Gogh preparando um quadro e deixando o acabamento e arte-final a cargo de outro pintor? Ou Rubens, ou Caravaggio? Beethoven compondo em parceria suas sinfonias? Newton pondo a cabeça de outro para levar a maçãzada em lugar da sua?
A excelência é um bem pessoal e intransferível, incompartilhável com a turba. O bando só sabe se refestelar na própria merda, e só assim se sente feliz.
E não é que um artigo, publicado na revista Superinteressante desse mês, revela exatamente o que eu acabei de dizer, e que sempre soube? A matéria "Reuniões, Como Elas Matam as Boas Ideias" mostra os resultados de pesquisas realizadas em vários locais do mundo, por fundações e universidades, sobre a eficiência das reuniões empresariais na busca de soluções e de novas ideias - ou, no caso, da ineficiência dessas reuniões, desses encontros do bando.
Os estudos desmascaram o estilo considerado como o mais moderno de se fazer uma reunião : o famoso e cultuado brainstorm, em que todos os presentes podem opiniar sobre todos os assuntos, com ou sem conhecimento de causa. O brainstorm, segundo seu idealizador, é a maneira mais democrática de
se realizar uma reunião. E é aí que o cara já começa cagando, quem disse
que um ambiente democrático é forja de boas ideias? Não é. Muito pelo
contrário. Basta ver a qualidade da produção musical durante o governo militar (1964-1985) e a de agora.
O objetivo de seu criador, Alex Osborn, era criar um ambiente descontraído que gerasse muitas ideias, que em meio a uma tempestade de ideias idiotas surgissem, vez em quando, ideias geniais. O problema é que uma idiotice dita com propriedade pode se acatada como genial, e o que mais há por aí são idiotas eloquentes.
Reproduzo, a seguir, alguns trechos da matéria:
"A mesma pesquisa, realizada pela Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, constatou que 70% das reuniões não chegam a lugar nenhum, e uma empresa média, de 100 funcionários, desperdiça R$ 500 mil anuais com o tempo perdido nelas"
"É que um estudo publicado neste ano aponta que as pessoas são mais inteligentes, e tomam melhores decisões, quando estão sozinhas. Psicólogos da Universidade de Haifa, Israel, apresentaram uma bateria de perguntas e problemas para que voluntários resolvessem. Metade dos voluntários trabalhava sozinha. A outra metade se reunia em grupo. Resultado? Os solitários sempre foram melhor que os grupos. Acertaram mais respostas e propuseram soluções mais pertinentes."
"Não há dúvida de que o pensamento solitário é mais produtivo", afirma Ashier Koriat, autor da pesquisa"
Outro problema, segundo a pesquisa, é que, nos brainstorms, os tímidos são colocados para escanteio pelos mais extrovertidos, que, via de regra, pensam menos para falar, isso quando pensam. A pesquisa constatou ainda outra obviedade, que os tímidos são mais inteligentes e criativos.
Há um consenso equivocado sobre o que é ser tímido, comumente visto como aquele cara que gostaria muito de se relacionar com as pessoas, mas não consegue, tem algum bloqueio, alguma dificuldade de. Nada mais falso que esse senso comum. O tímido não é incapaz de se relacionar com o bando : ele não quer, ele não suporta a nociva interação. Só tal aversão ao rebanho já denota uma inteligência superior, que é mais ainda desenvolvida pelo isolamento de que ele tanto gosta, preza e necessita.
O artigo nada fala sobre, mas o que dizer, então, das abjetas dinâmicas de grupo? É um circo sem sentido, um palco para a humilhação pública do indivíduo, o cara é aplaudido pelo bando por fazer papel de idiota. Orgulho-me em dizer que nunca participei de uma dessas dinâmicas, sem nenhum pudor, sempre saí do recinto à simples menção de suas realizações.
O que me entristece é que foram gastos anos e anos de pesquisa, e uns tantos milhões de dólares, para verificar o evidente.
Tamanho trabalho poderia ter sido grandemente abreviado caso os pesquisadores tivessem : a) perguntado ao Azarão, ou, melhor, b) assistido a uma única, a uma uniquinha reunião pedagógica, dessas tão comuns nas escolas de ensinos fundamental e médio.
0 Comentários