Governador Alckmin Convoca Professores Semianalfabetos Para Darem Aulas

Seja qual for o cargo público, ou o grau de instrução que cada um requeira, ninguém é admitido pelos munícipios e estados sem ter sido aprovado num concurso de provas e títulos. Policiais, lixeiros, médicos, secretários, serviços gerais, engenheiros, advogados etc etc.
Todos, ou são aprovados em um concurso ou, simplesmente, não exercem sua profissão no serviço público.
Quase todos, na verdade. Todos menos um, desgraçadamente. Há uma categoria que é absorvida pelo Público sem estar capacitada a tal. Há um tipo de profissional que não precisa ser aprovado em um concurso para trabalhar. Pior que nem ser aprovado : nem precisa mais prestar o concurso para trabalhar.
Atualmente, do total dos 210 mil professores que compõem o quadro de magistério do estado de São Paulo, 100 mil são docentes não concursados. 
Quase metade dos professores paulistas nunca foi aprovada em um concurso, muitos já nem prestam a prova, certos de sua utilização pelo governo. E olha que o concurso nem é aquela coisa toda, é uma provinha básica, que cobra o mais raso que é possível de cada disciplina.
Não obstante, esses incapazes são postos dentro das salas de aula devido ao número insuficiente de mão de obra minimamente qualificada. Recebem o nome de admitidos em caráter temporário, mas muitos são os que se aposentam sendo temporários sua vida inteira. Sim, muitos se aposentam pelo Estado sem nunca terem sido aprovados em concurso.
E a coisa não para por aí. Há o tal do eventual, que é um tipo de "tapa-buraco" da escola. O cara, por exemplo, é licenciado em matemática (formado pelo ensino à distância, mal sabe a tabuada), mas é usado pela escola na substituição de professores de qualquer disciplina. 
Falta o professor de História, o cara que não sabe a tabuada está lá, falta o de Biologia, o cara que não sabe a tabuada entra em ação, falta o de inglês, o cara que não sabe a tabuada surge com giz e apagador nas mãos.
Para tentar "moralizar" um pouco essa putaria, o governo do estado de São Paulo criou, há uns 3 ou 4 anos, uma prova classificatória para esses eventuais e admitidos em caráter temporário. Ou seja, foi criado um subconcurso, um concurso destinado àqueles que não conseguem passar num concurso.
O tiro saiu pela culatra. O governo acertou o próprio pé, e revelou um quadro ainda pior do que se supunha. Uma parcela considerável zerou na prova. E zeram até hoje.  Num primeiro momento, esses semianalfabetos diplomados foram impedidos de pegar aulas, classes não mais lhes seriam atribuídas. Nada mais coerente.
A falta crassa de professores, porém, obrigou o governo a reconsiderar, a voltar atrás e readmitir os, literalmente, zeros à esquerda.
Não teve como. Ou era isso ou os início e transcorrer do ano letivo seriam prejudicados. Teve-se que deixar cair a máscara de uma vez por todas. A máscara que tentava ocultar o que todos sabemos ser a marca do brasileiro : a incompetência.
Incompetência do governo estadual (proposital, nesse caso) em não proporcionar condições de trabalho e pagar salário decente ao professor; incompetência do MEC (mais desfaçatez, até) em regularizar o funcionamento de faculdades cada vez piores, faculdades de fim de semana, de beira de estrada; incompetência de muitos que se metem a ser professores sem possuirem o menor talento para tal, que acham que qualquer um pode entrar numa sala e lecionar, um bando de chucros que melhor serviriam à sociedade (e a si mesmos) se portassem uma enxada, não um giz; e incompetência das famílias em não cobrar do Estado uma escola de melhor qualidade, em não darem a devida importância à formação de seus filhos.
Pelo terceiro ano consecutivo, o governador Geraldo Alckmin está a convocar os professores reprovados no subconcurso para docentes. Reprovado significa não ter acertado nem 50% das questões propostas, todas na forma de testes de múltipla escolha. Esgotados os reprovados, Alckmin chamará os que, inclusive, nem chegaram a prestar a prova.
Concursos têm sido realizados com maior frequência, mas parcela significativa dos aprovados nem assume o cargo. E os que assumem, logo pedem exoneração. Pudera, um professor recém concursado irá ganhar pouco mais de mil reais (salário bruto) por uma jornada básica de 25 aulas semanais. O valor divulgado por Alckmin na imprensa, R$ 1989,00, é mentiroso, e ainda que fosse verdadeiro, não deixaria de ser miserável.
Há bons professores na rede pública. Ainda os há. São aqueles que estão na faixa dos quarenta anos para cima, são aqueles que começaram a carreira em época que se pagava um pouco melhor, são aqueles que, já com vistas à aposentadoria, não vão abandonar tudo de uma hora para outra, embora essa seja a vontade muitas vezes. 
Mas não haverá a renovação dos bons docentes. Em quinze ou vinte anos, talvez menos, apenas os zeros estarão à frente de uma sala de aula, apenas os "graduados" em faculdades à distância.
Hoje, o bom aluno e seus pais são submetidos todos os anos a uma roleta russa - um professor ruim pode fazer mais estragos que uma bala na têmpora- , não contam com a certeza de serem servidos por bons profissionais, contam apenas com o acaso, com a sorte de "caírem" com bons professores. Daqui a alguns anos, contarão com a certeza da bala a lhes estourar a cabeça.
Os professores semianalfabetos estão de volta às salas de aula, desarmados até os dentes.
Não há mais como esconder a podridão, a deformidade, a cicatriz. A máscara caiu.
Todavia, para a sorte do governo, muito pouca gente está olhando.

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