Evangélicos Querem Legalizar A Cura Da Viadagem

O sujeito, de livre e espontânea vontade, procura um psicólogo e lhe diz que não quer mais ser gay. O psicólogo deve oferecer seus préstimos e ajudá-lo em sua intenção?
Para o Conselho Federal de Psicologia, a resposta é categórica : não. Desde 1999, os psicólogos são proibidos de se manifestarem publicamente sobre ou de abordarem o homossexualismo com seus clientes como se ele fosse um transtorno, um problema.
Para a bancada evangélica da política nacional, é resposta é igualmente categórica : sim. O homossexualismo é um transtorno a ser tratado se for da vontade de seu portador, deus criou o homem e a mulher, garantem eles. 
O deputado evangélico João Campos (PSDB-GO) quer reverter a decisão do Conselho Federal de Psicologia e legalizar a "cura gay", por considerar que o conselho "extrapolou seu poder regulamentar" ao "restringir o trabalho dos profissionais e o direito da pessoa de receber orientação profissional".
De um lado, os evangélicos e sua certeza cega, fundamentada em sua ilógica bíblia, de que a viadagem é uma doença; de outro, os psicólogos e sua certeza cega, fundamentada em sua falsa ciência, de que a viadagem é um comportamento normativo e não deve, em hipótese alguma, ser encarada diferentemente disso, ou sofrer qualquer intervenção de ordem terapêutica.
Os dois estão equivocados. Erradíssimos em se meterem na vida alheia e quererem decidir sobre aspectos íntimos e intransferíveis de outrem, padronizando-os.
Do alto de seus posicionamentos opostos, evangélicos e psicólogos mostram que têm muito em comum. Arraigados a seus dogmas, ambos são igualmente intolerantes e preconceituosos.
Acredito que a questão nem seja regularizar o "tratamento" para a rosca frouxa. A questão é, por que proibí-lo? Por que é proibido? Quem define que comportamentos são transtornos a serem tratados ou não? Com base em quê? A quem cabe o julgamento moral em estabelecer quem é passível de uma assistência terapêutica ou não?
O direito de decidir se algo é um transtorno, deveria ser dado, única e exclusivamente, à pessoa que vivencia uma situação que a incomoda, bem como o direito de procurar o auxílio que ela julgar conveniente.
A ninguém mais deveria caber tal decisão. Nem ao Conselho de Psicologia, nem ao Estado, e muito menos a um bando de evangélicos escrotos.
Para o ser humano, tudo pode se transformar num transtorno, num foco de conflitos pessoais. Tem aquele que é complexado porque é gordo demais, ou porque é magro demais, ou muito baixo, ou muito alto, ou porque tem o cabelo "ruim", ou porque usa óculos fundo de garrafa, ou porque tem orelhas de abano, ou porque tem o pinto pequeno etc etc.
Qualquer dificuldade em aceitar a própria natureza, por mais boba que possa parecer, pode gerar sérios transtornos. 
Por que ser gay - descobrir-se gay - tem que ser motivo de alegria e júbilo para todos que o são? Por que ser gay não pode gerar dúvidas e inseguranças iguais às que possuem o magro demais, o gordo demais, o que tem acnes demais?
E por que esse sujeito não pode receber uma orientação profissional, se é de sua livre vontade?
Claro que não há uma cura para a homossexualidade, uma vez que em doença ela não se configura. Se o cara for gay dos legítimos, psicólogo nenhum do mundo mudará isso.
Mas permitindo que ele procure um profissional com a intenção de se curar, o bom psicólogo poderá, ao longo do processo, conscientizar o viadinho de sua condição natural, ensiná-lo a melhor aceitar, conviver e, por que não?, usufruir do que não pode ser mudado.
O bom psicólogo não vai - e nem poderia - mudar a orientação sexual inata ao sujeito. Pode curá-lo, porém, da rejeição que ele nutre por sua própria condição natural. Lentamente, o psicólogo vai mudando o enfoque das consultas e promove a autoaceitação do indivíduo. Findo o processo, ele nem se lembrará de que foi lá atrás de uma "cura". É bem capaz que, em agradecimento, o viadinho até acabe dando a bunda pro psicólogo.
No entanto, se o tema homossexualismo como foco de conflitos for tornado em tabu, o sujeito não terá a oportunidade nem de aprender a se aceitar.
E notemos como a coisa é incoerente, mesmo hipócrita. A medicina aceita tranquilamente a cirurgia de mudança do sexo físico como um procedimento ético e moral, mas taxa de preconceituosa a tentativa de mudança da orientação sexual. Permite que o cara corte o pau fora, mas impede que ele queira restaurar e preservar as pregas do cu.
De qualquer forma, o que deveria ser proibida, é essa tamanha ingerência dos Conselhos de Psicologia, do Estado e, agora, dos fanáticos religiosos no âmbito pessoal da vida do cidadão.
Não tem que proibir nem legalizar, o assunto tem que ser deixado à livre decisão de cada um. O que deveria ser proibida, é essa fiscalização do cu alheio. 
Aproveitando essa onda toda de proibições - e também para não perder a chance de marretar dois de meus alvo prediletos -, duas outras coisas podiam ser proibidas a bem da nação : o cara se tornar evangélico e se formar em psicologia.

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2 Comentários

  1. Aí está um comentário lúcido e maduro a respeito desse tema, que até o momento não tenho visto em nenhum dos ditos meios que se prestam a "formadores de opinião". Jornal quer vender, então quer mais é jogar lenha na fogueira e faturar com a polêmica. Quem normalmente forma ideias a teu respeito a partir dos seus textos em que se refere aos gays de maneira extremamente irônica (e que pode facilmente ser confundida com intolerância), vai se surpreender com o grau de imparcialidade e lucidez que você revela neste texto com relação a esse fato imutável, que é a natureza sexual de cada um.

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  2. O conselho de Psicologia proíbe a terapia de reversão e não o atendimento de homossexuais. Tome cuidado, esse é um argumento usado pelos crentes. A lei foi criada para ajudar homossexuais com a chamada "homofobia internalizada", criando um espaço de escuta sem patologização, para ajudara estas pessoas lidarem com seus conflitos

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