Silvio Santos Perde Seu "Lá, Lá, Lá, Lá..."

Não pode ser mero azar. Alguém fez uma macumba muito braba pro lado do Senor Abravanel, o Silvio Santos. Puseram o nome dele na boca do sapo, fizeram um boneco vodu. Ou, no caso, armaram uma cabala e um Golem dos bons contra o careca mais cabeludo do Brasil.
Primeiro, ele perdeu o banco Pan-Americano; até aí, tudo bem. O que é um banco para o Homem do Baú? Em seguida, para pagar o rombo deixado pelo banco, teve que vender o Baú. Aí, a coisa já ficou mais séria. Perdeu-se a imagem quase atávica daquela capinha do carnê do Baú que povoava nossa imaginação desde a infância. Quem nunca teve ao menos um avô que comprava o carnê do Baú, nunca ganhava nada, e no fim do ano trocava por presentes pros netos nas lojas Buri e Tamakavy? Ou por panelas para a avó?  Desde que, é claro, estivesse rigorosamente em dia com as mensalidades. Mesmo os vendedores do carnê do Baú, espalhados pelas ruas dos centros urbanos, deixaram uma lacuna impreenchível.
Foi um golpe duro para Senor Abravanel, mas ele não esmoreceu. Continuou seu programa dominical com toda galhardia que lhe é peculiar. Até faz propaganda e vende os restos de seu estoque - o rescaldo do Baú - a cada final de bloco de seu programa, honrando sua origem de judeu e bom mascate.
Silvio Santos só não tombou por um simples motivo. Tudo o que ele perdeu, foram bens materiais, e isso, um judeu recupera do dia pra noite. Não caiu porque o mais importante, ele ainda conserva. Sua essência, seu anima, seu savoir-fare
Silvio Santos só não desmoronou até agora porque manteve seu totem, o famoso "Silvio Santos vem aí, lá, lá, lá, lá, lá, lá". O mojo do Senor Abravanel é o lá, lá, lá, lá, lá, lá. É, e sempre foi, sua artilharia de frente. Ele nem precisa entrar no auditório, basta tocar o lá, lá, lá, lá e suas colegas de trabalho se agitam como se lá ele estivesse.
O lá, lá, lá, lá é o mantra que Silvio Santos recita antes de dormir, está em sua secretária eletrônica, em seu toque de celular, em seu despertador, no alarme de seu carro. Quando dá uma fincada na helen-ganzaroli-banheira-do-gugu, goza cantando o seu lá, lá, lá, lá. O lá, lá, lá, lá é o que o impulsiona, o que garante sua pujança e sua paudurescência.
Pois agora, Silvio Santos pode perder sua alma, o seu lá, lá, lá, lá. O Golem está com suas poderosas mãos em torno do pescoço do Senor Abravanel.
Archimedes Messina, que diz ser o criador do jingle de Silvio Santos, venceu em 2001 o processo que movia contra o SBT por danos morais e materiais pelo uso da música sem pagamento por mais de 40 anos.
Não é de se duvidar. Silvio Santos é exímio na arte de usar o que é dos outros e nada pagar. 
O caso mais clássico é o do palhaço Bozo. Reza a lenda que Silvio Santos teria pago pelos direitos de uso da figura do palhaço por apenas um ano. Depois, criou personagens que não existiam no original americano : vieram a Bozolina, o Papai Papudo, a Vovó Mafalda, o Salci Fufu (o saudoso Pedro de Lara) etc, ou seja, descaracterizou o produto e bem o utilizou por uma década sem pagar porra nenhuma ao detentor da marca, na faixa. Além dos personagens alienígenas ao original, criou quadros muito instrutivos e pedagógicos. Como a Bozo Corrida, em que a molecada ligava pro programa e apostava num páreo entre três cavalinhos mecânicos, o branco, o preto e o malhado.
Depois de muitos recursos e apelações, o processo foi encerrado. Não cabe mais recurso por parte do SBT. Messina venceu a ação em que pede uma indenização de cerca de R$ 5 milhões à emissora, e o pagamento de cessão de direitos da música.
 “Nos próximos dias, assim que sair a publicação da decisão da Justiça, o SBT terá de parar de executar a música ou comprar os direitos dela”, diz a advogada de Messina, Eliane Jundi.
Caso venha de fato a perder seu lá, lá, lá, lá, tenho certeza de que Silvio Santos não resistirá. Capitulará frente a esse novo e injusto revés. Todos temos que ter nosso lá, lá, lá, lá.
Ou o Senor Abravanel compra seu mojo de volta, ou morre de vez. Sem banco e sem baú, podemos muito bem viver. Sem nosso lá, lá, lá, lá, definitivamente não.

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