Pequeno Museu Macabro

Não descarto, não desprezo,
Não boto nada fora ao lixo.
Sou bicho que se emociona,
Que coleciona "o-que-poderia-ter-sido".

Mantenho uma secreta galeria.
Ao fundo da estante de livros,
No porão sob o tapete da sala,
Por detrás da 24ª hora de cada dia.

Ali disponho
(E só para mim exponho)
Finados sonhos, livros não lidos,
Cursos não concluídos, cartas não remetidas,
Mulheres não comidas, profissões não exercidas,
Prantos não rolados, talentos petrificados, amores embalsamados.

Alinhados em prateleiras,
Como fetos humanos em vidro de formol de um laboratório de anatomia.
Em interrompidas e eternas gestações,
Sem direito a descanso,
Ao esquecimento.

Visito-o para cafés frios com fantasmas
E para futuras referências:
Meu pequeno museu macabro.

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