Pequeno Conto Noturno (12)

Rubens foi embora há uns 10 minutos, pau escalavrado, costas lanhadas, braços fatigados, esbravejando sua intenção de não mais vê-la, taxando-a de ninfomaníaca. Rubens foi embora há uns 10 minutos, deixando Angélica sem pau e sem vodka para tranquilizá-la na madrugada. São ainda quase três horas para o nascer do sol.
Angélica olha absorta para as pequenas flores no vasinho ao centro da mesa, flores brancas, pentâmeras, de bordas alaranjado-forte, miolo amarelo.
Lembra de ter visto/escutado/lido que as flores são as bucetas das plantas e que a época da florada é o cio delas. A planta se arreganha em flores, oferecendo suas entranhas para serem fodidas por abelhas, borboletas, beija-flores e até boêmios morcegos. Molham-se em néctar, as plantas. Ninguém as chama de putas por isso, pensa Angélica. Quanto mais elas florejam, quanto mais gemem de gozo, mais as pessoas gostam das plantas.
E ela, ali. Sem caralho nem bebida para apaziguar sua florada.
Angélica resolve que está cansada. Deslacra a tampa da caixa nova de seu remédio tarja preta - faixa preta 5º dan, Rubens ironizava.
Destaca cada drágea da cartela aluminizada e, duas a duas, as vai transferindo para a sua boca, todas as vinte drágeas.
Toma uns quatro grandes goles de água por cima : sua decisão de virar um vegetal.

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