O corpo,
De
(não há segredo)
Carboidratos,
Proteínas,
Lipídeos,
Vitaminas e minerais,
O meu
Está bem cevado deles
(até demais).
Pão e massas em doses ditadas pela gula;
Folhas coloridas às mancheias
(adoro folhas coloridas),
Verdes claras, escuras,
Brancas, amarelas, roxas;
Gorduras bem limitadas e moderadas,
Não pelo bom senso
Ou prescrição de nutricionista,
Mas pela providencial preguiça
De limpar a sujeira
Que uma fritura faz.
(meu corpo dorme satisfeito, saciado).
Já a alma,
É outro bicho.
Tem fome de outros víveres
E de outros viveres.
Que não se encontram em mercados,
Quitandas, padarias
Ou
(Cruz credo!!!)
Em praças de alimentação de shoppings centers.
Tem fome de coisa viva,
A alma.
É predadora,
A alma.
Não carniceira, feito o corpo.
A alma saliva
Por outras almas,
Que salivam pelo mesmo que ela.
Saliva por novas salivas,
Novos primeiros beijos,
Por meteoros e estrelas d'alva a riscar as retinas,
Por madrugadas com cheiro de vinho e bala de menta na escadaria de uma praça morta,
Por olhares dilatados e cafeinados,
Por sorrisos de dentes de chocolate branco,
Por um tango lascivo entre mãos apaixonadas e medrosas.
Por outros,
Outros,
Outros
E outros
Feijões-com-arroz,
Saliva
A minha alma famélica.
A minha alma,
Há tempos,
Asceta faquir.
(Vaga insone pela casa, minh'alma,
Enquanto o corpo ronca e peida,
Locupleto)
4 Comentários
Você sabe que eu gosto de jogos de palavras e estes dois versos são perfeitos:
ResponderExcluirTem fome de outros víveres
E de outros viveres.
Um poema muito elegante que termina com um "peida". Isso é problema seu, mas acaba com a magia! Você é o Aldir Blanc de Ribeirão Preto!" (O Aldir escrevia bem pra caralho mas gostava de colocar a periferia em seus textos)
Rapaz, coitado do Aldir Blanc, deve estar se revirando na tumba, agora. E te rogando uma boa praga.
ExcluirValeu.
O mistério é como ela aparece para mim, meio que do nada. Eu não consigo parar, sentar, pegar a caneta e dizer : agora vou escrever uma poesia. Por isso, jamais eu poderia ser um escritor profissional.
ResponderExcluirAbraço.
Marreta, o devorador de almas!
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