Cerveja-Feira (75)

O injustamente famigerado Efeito Estufa não apenas é um fenômeno natural como também indispensável à maior parte da vida no planeta. A grosso modo, o efeito estufa é um cobertor gasoso que envolve a Terra e que possibilita que ela retenha parte do calor recebido do sol durante o dia.
Quando uma face do planeta deixa de ser iluminada e aquecida pelo sol, no período que chamamos de noite, o calor tende a se dissipar de volta para o espaço sideral, na forma de raios infravermelhos. E se dissiparia integralmente caso não fosse o efeito estufa. Sem o efeito estufa, a Terra teria uma temperatura média de -18ºC, uma bola de gelo, seríamos; um picolé pra Galactus.
Porém, as moléculas de alguns gases componentes da atmosfera, como o CO2, o CH4 e o vapor d'água, têm a propriedade de refletir de volta ao planeta parte dos raios infravermelhos fujões, mantendo uma temperatura mais adequada à vida como a conhecemos, uma média global de +14ºC.
A questão é que o ser humano, com as emissões gasosas provenientes de suas atividades econômicas, está a engrossar cada vez mais esse cobertor. Está a tecer, principalmente, com CO2 (queima de combustíveis fósseis e queimadas de vegetação) e CH4 (de peidos de grandes rebanhos bovinos e da decomposição em lixões e aterros sanitários), camadas e mais camadas de tecido neste cobertor. É como usar um cobertor de esquimó no inverno em Salvador.
O que traz inúmeras e desastrosas consequências; a exemplos : 
Derretimento das calotas polares e consequente aumento dos níveis dos oceanos, o que põe em risco a existência dos ursos polares, das focas pintadinhas, das morsas, dos pinguins e das cidades costeiras e litorâneas. Até aí, para mim, tudo bem. Que se danem o urso polar e a foquinha. Que se danem Ubatuba, Santos, Orlando e Miami, não moro nem gosto de cidades de praia; 
O aumento de doenças tropicais, como a dengue, a malária, a leishmaniose. Até aí, tudo bem, de novo. Nasci nos tristes trópicos, estou habituado a todo tipo de praga e peste;
Ondas de calor em países dantes de temperaturas mais amenas, inclusive, causando um grande número de óbitos entre seus habitantes. Sessenta e uma mil pessoas morreram de calor no verão europeu de 2022. Que se danem os europeus, os branquelos alemães, ingleses, suíços e outros assemelhados. Nascido e criado na tórrida Ribeirão Preto, tiro de letra, aguento fácil, fácil, 40, 42ºC.
O que o chamado mundo desenvolvido tem começado a sofrer com o aumento do efeito estufa é o que eu sempre vivi. Tô de boa.
Mas... há um limite para tudo. Até para as travessuras do efeito estufa.
Agora, esse menino passou dos limites. Agora, as traquinagens e sacizadas deste capeta em forma de guri extrapolaram toda e qualquer escala do tolerável : o efeito estufa está a mudar (para pior) o gosto da cerveja.
O alerta, de nível Defcon 4, vem da Alemanha, de agricultores de lúpulo das colinas verdes e ensolaradas da cidade de Spalt. As mudanças climáticas, o clima mais seco e quente, estão não só a diminuir a produção de lúpulo, estão também a alterar a concentração dos princípios ativos e óleos essenciais da sagrada planta.
Em 2022, segundo ano de seca consecutivo na região, houve uma quebra de safra de 30% e a cerveja produzido com o tradicional e secular lúpulo não agradou nem aos mestres cervejeiros nem aos consumidores mais puristas, os degustadores.
Sendo proativos frente aos prognósticos de um futuro mais quente, produtores e institutos de pesquisa têm investido tempo e dinheiro na obtenção de variedades de lúpulo mais resistentes à seca e ao calor, como forma de manter a produção. Porém, mais uma vez, essas novas variedades, igualmente, não produziram uma cerveja com os mesmos aromas, sabores e amargores do Spalter original.
"Não há nenhuma variedade recém-criada que possa competir no campo do aroma puro e fino do lúpulo – apenas o sabor tradicional do lúpulo – fornecido pelas nossas variedades tradicionais”, disse Frank Braun, presidente da HGV Spalten.
Se bem que, pensando bem, o lúpulo Spalter que se dane também!!! Eu tomo é cerveja de milho!!! E o milho vai muito bem e obrigado.
Ursinho polar, foquinha-pintada, europeus desbotados, lúpulo Spalter... vão se foder!!! Porque aqui na face da Terra só cervejeiro das antigas é que vai ter!!!


Frank Braun, em seu Jardim do Éden

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3 Comentários

  1. Taí! Spalter seria um excelente nome para uma breja feita com milho. Que acha? A propósito, a barba imensa observada em dois mestres cervejeiros é coincidência ou este é um padrão a seguir?

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    1. Spalter, milho... não captei, amado mestre.
      Sim, Frank Braun tem um barbão das antigas!!!

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  2. pelo que entendi, o lúpulo tem o nome de spalter. Entendi também que a cerveja de milho não utliza lúpulo. Se meu entendimento está correto seria uma ironia criar uma cerveja de milho e dar a ela o nome do inexistente lúpulo.

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