Tigre em Pele de Cervo

Mais um poema em pele de comentário "anônimo". Mais um fragmento fujão e desgarrado da rocha-mãe do Planeta Jota. Incapaz de resistir à minha gravidade. Um poema em pele de incandescente e fogoso meteorito. Uma estrela cadente a riscar os céus do Marreta. 
Faço um pedido à fátua e fugaz estrela. Na sincera esperança de que ela não o realize, de que ela não o me conceda. Ou não precisarei mais dela a fosforecer nos meus céus. Também porque cada desejo satisfeito é um sonho morto, degolado. E está tão difícil de ter novos sonhos ultimamante...
(o título, como de costume, como de provocação, ficou por minha conta)
 
Tigre em Pele de Cervo 
Matamos o que amamos. O resto
nunca esteve vivo.
Ninguém está tão perto. A nenhum outro fere
um esquecimento, uma ausência, às vezes menos.
Matamos o que amamos. Que cesse esta asfixia
de respirar por um pulmão distante!
O ar não é suficiente
para os dois. E não basta a terra
para os corpos juntos
e a ração de esperança é pouca
e a dor não se pode dividir.

O homem é um animal de solidões,
cervo com uma flecha no flanco
que foge e se dessangra.

Ah, porém o ódio, sua fixação insone
de pupilas de vidro; sua atitude
que alterna entre repouso e ameaça.

O cervo vai beber e na água aparece
o reflexo do tigre.

O cervo bebe a água e a imagem. Torna-se
– antes que o devorem – (cúmplice, fascinado)
igual ao seu inimigo.

Damos a vida apenas ao que odiamos.

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