Às Amadas Que Envelheceram Sem Maldade

Sem nos conhecermos
Sem nem ao menos nos suspeitarmos
Nos idealizamos.
 
Anos depois,
Nos conhecemos,
Nos re-conhecemos;
Num cruzamento
Numa encruzilhada do Acaso,
Nossos ideais se esbarraram.
 
Exultamos, então.
Flertamos
(e como era gostoso flertarmos),
Enamoramo-nos
(e, de tão bom, nem nos sabíamos enamorados).
"Mas na hora da cama
Nada pintou direito
É minha cara falar
Não sou proveito
Eu sou pura fama".
 
Vieram, então
Os desapontamentos,
As mágoas.
Um culpando o Outro
Pelo Outro não ter pra dar
(ou não poder dar)
O que o Um necessitava
E que nunca comunicara verbal e oficialmente ao Outro.
O Um tendo que adivinhar o que o Outro concebera
E tomara como tácito que o Um soubesse.
E vice-versa.
Um culpando o Outro,
O Outro culpando o Um
Pelos seus próprios erros de concepção,
Pela ruína de suas utopias.
 
Vieram, então,
As picuinhas,
Os espezinhamentos,
As pequenas vinganças;
Um virou o pesadelo do Outro,
O Outro, o terror noturno do Um.
 
Anos depois,
Já equilibrada
A balança entre o arrebatamento e o querer matar,
Você é a única
Que ainda aparece
Nos meus raros sonhos bons.
 
em tempo : o título é um verso do poema Nova Poética, de Manuel Bandeira, meu modernista preferido.

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1 Comentários

  1. “Então, lutando para continuar dormindo, desejando que o sonho durasse para sempre, certo de que uma vez que acabasse, jamais voltaria……você desperta”. Sandman

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