Enterrem Meu Coração Num Canecão de Cerveja

O presunto ao forno, a chamada cremação de corpos, não é prática comum no Brasil. Talvez por questão cultural, mesmo. Talvez pelo alto custo do processo se comparado ao já oneroso paletó de madeira. 
Dei uma pesquisada e encontrei que, no Metropolitano Cemitério Vertical de São Vicente (SP), o churrasco mais em conta do cardápio sai pela bagatela de R$ 6 mil, fora os 10% do garçon, podendo atingir valores superiores a R$ 20 mil.
Nos Estados Unidos e em vários países europeus, no entanto, a cremação é uma tradicional destinação dada aos corpos dos mortos. Também é tradição os mortos expressarem em vida (é claro) o que querem que seja feito de suas cinzas.  
Uns, mais modestos, contentam-se em repousar pela eternidade em urnas sobre uma lareira, ou na prateleira de uma estante, em tornarem-se um elemento macabro da mobília. Há os que querem que suas cinzas sejam aspergidas ao mar; outros, que sejam espalhadas aos ventos do alto de uma montanha. Há também opções para os ecopentelhos, o defunto que quer ser chato até depois da morte, a urna ecológica, que vem com uma muda de planta enterrada nas cinzas e que, nesse rico substrato, vicejará; é a reciclagem de defunto, o (a) cinza virando novo verde. Ainda, para os mais fidalgos e com pretensões de faraós, as cinzas mortuárias podem ser convertidas em diamantes e joias, ou lançadas ao espaço sideral.
Pois não foi nenhum desses destinos bucólicos, piegas e melodramáticos que o britânico Kevin McGlinchey quis dar às sua cinzas.
Cervejeiro inveterado e frequentador assíduo do pub irlandês Hollybush, na cidade de Coventry (Inglaterra), McGlinchey quis que suas cinzas fossem misturadas a uma caneca de cerveja e vertidas num ralo do estabelecimento que tantas alegrias lhe proporcionou em vida.
E foi o que os seus filhos, Owen e Cassidy, fizeram. Misturam as cinzas do pai em uma tulipa de cerveja e o enviaram ralo abaixo. Depois da despedida, os filhos foram beber em honra e homenagem ao pai.
Ao tabloide "Sun", Cassidy declarou : "Papai havia nos falado por anos e anos que seu desejo seria ir pelo ralo de um pub, ele costumava deixar as coisas lá embaixo, coisas estranhas, como o cabelo dele. Ele adorava o Hollybush e ia lá todos os dias. Ele disse: 'Quando eu morrer, se você me colocar no ralo, poderei viajar para todos os meus locais pelos subterrâneos. Toda vez que você passar por um ralo, vai pensar em mim e há muitos por aí, então não importa onde você esteja no mundo, você ainda vai pensar em mim'".
Abaixo, Kevin McGlinchey, todo "animadaço" ao lado dos filhos.
Kevin e os filhos
Se a moda pega, vai ter gente querendo suas cinzas escoadas nos ralos de restaurantes, hotéis, estádios de futebol, shopping centers, escolas, cafeterias, bibliotecas, antigos locais de trabalho, academias... e até nos zonões e puteiros!
Pois o velho McGlinchey me deu uma boa ideia. Não chegarei ao ponto de querer que minhas cinzas sejam diluídas em cerveja e vertidas ralo abaixo daquele que foi meu bar preferido, o Paulistânia, do velho Durval, até porque o bar nem mais existe, mas quererei que elas sejam armazenadas dentro um belo canecão de cerveja, transformado em urna cinerária tão-somente pela adaptação de uma tampa à sua boca.
Ah, isso eu vou querer, sim! Deixarei até especificado o modelo de caneca em que desejarei repousar. Uma robusta caneca feita em pedra sabão. Um modelo de traços clássicos, sóbrios e elegantes. Feito eu.
É ou não é uma bela duma urna cinerária?

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1 Comentários

  1. Não deixa de ser uma bela história. Como um evento inevitável, a morte deveria ser confrontada assim: com certo humor e por que não alguma alegria?

    Essa história das cinzas na tulipa me recorda aquela expressão sobre certas pessoas que, se bater no liquidificador, não dão um copo.

    No fundo, é o que sempre digo: a gente cabe num copo, e ainda há quem se ache muita bosta.

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