Terras Raras e Outros Elementos Além-Mendeleiev

No início,
Vai ser :
Como ter perdido aquele amigo confidente,
Que se mudou de cidade e/ou de escola;
Como ter recebido alta inesperada do psicólogo
E ter apenas o sofá mudo de casa para se deitar e pensar na vida;
Como não ter mais um padre confessor
E ter de decidir sozinho se seus pecados são ou não perdoáveis
E mediante a que indulgências;
Como se o dique fosse se romper,
Como se não fôssemos capazes de nos conter em nós mesmos 
(bexiga de velho sempre com vontade de mijar).

Em seguida :
A simples lembrança do amigo em conversas e encontros imaginários passará a bastar;
O divã do psicólogo será tido como outra criancice e outra fraqueza a serem empurradas para debaixo do tapete de nossos arrependimentos e vergonhas - cada vez mais alto, o tapete;
E o espelho do banheiro, na madrugada,
Será capela, oratório e genuflexório mais confiável e revelador.

E depois...
O Depois.
Que o Depois não deixa nada para depois.
Que o Depois sempre dá o seu jeito,
Que o Depois sempre se impõe, impera,
Que o Depois sempre bate à nossa porta
Com um mandato de condução coercitiva.

Nosso consolo?
Nosso álibi?
Nosso reconforto?
O Antes!
Que só o Antes pode fazer frente ao Depois num tribunal.
Ainda que sempre perca.
Por prescrição das virtudes.

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3 Comentários

  1. Por prescrição das virtudes
    Ou decadência de nós mesmos.

    Belo texto, poderia intitular "sobre reincidências, terras raras e outros elementos..."

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