Ontem, Eu Quis Matar Um Poeta - Ela me Disse

O que 
De verdade
Há na poesia?

A de que
As pessoas que a procuram
Nada querem com a verdade.

O que
De verdade
Há no poeta?

Só a parte
Que não interessa a ninguém.

Ontem,
Eu quis matar um poeta
- ela me disse -
Quis exangui-lo
De seu sangue 
Azul
Verde
Preto
Vermelho
Roxo
Ou seja lá a cor
Com que ele
Escreve
Urina
Transpira
Conspira
Enreda.

E por quê?
Perguntei a ela.

Mentiu-me.
Enganou-me.

Enganou-te com o quê?
Com uma mão ruim de cartas,
Prerrogativa do crupiê que o poeta é?
Com as alegorias dele,
Que é o seu ofício de fé?
Com mesmerismos
E com a prestidigitação de sentimentos,
Que são o seu artesanato maior?
Não queres um sapato quando buscas os serviços de um sapateiro?

Magoou-me.
Traiu-me.

Entendo...
Parece-me ter cometido
O maior crime dos poetas,
O teu poeta :
Disseste-te,
Num momento de descuido
De pouca inspiração ,
A verdade.
Deixou de ser um fingidor,
Tornou a tua dor
(e a dele)
Na dor que deveras sente.

("enquanto você me fala, entredentes, poeta bom, meu bem, poeta morto...")

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