Pequeno Conto Noturno (74)

Cíntia sobe e monta em Rubens - deitado na cama de barriga para cima, em riste - e passa a cavalgá-lo, de frente para ele.
Rubens gosta de foder assim, por baixo, economiza-lhe muito esforço físico, que, passado os 50, não tem mais fôlego para ficar fazendo centenas de flexões de braço. Ademais, ficar por baixo, submetido a ritmo que não o seu, dá-lhe controle total de quando ou não gozar.
Cíntia alterna movimentos circulares e de bate-estaca no pau de Rubens. Sem pará-los nem mesmo diminuir suas intensidades, debruça-se sobre Rubens. Oferta-lhes os peitos. Médios para grandes. Rubens os apalpa, manipula, lambe, suga. Cíntia goza. Ergue-se, saca os peitos da boca de Rubens e, sem tirar o pau de dentro, vira-se de costas para ele. Continua a montá-lo. Com o cu à mostra, o espesso líquido branco de suas entranhas a se emplastrar nos pentelhos de Rubens, a envernizar o seu pau.
Rubens começa, então, a deslizar para trás, a se pôr sentado na cama. Crava os dedos na bunda de Cíntia, puxando-a para si, para que não se desacople do seu pau. Ao mesmo tempo, enquanto se põe cada vez mais sentado, vai empurrando para cima a bunda de Cíntia, elevando suas ancas, para colocá-la de quatro. Ao se dar conta da intenção de Rubens, Cíntia tira as mãos dele da sua bunda, gira o corpo, volta a montá-lo de frente e diz que não, diz que na condição dela, de uma mulher consciente de seu papel na sociedade, se recusa em trepar de quatro.
Danou-se - pensa Rubens. Uma porra duma feminista. Só podia ser praga do Calil.
Mas como Cíntia continuava a montá-lo, encharcada e quente, e como o pau já estava mesmo dentro, decide que não faria mal nenhum gozar. E gozou.
Cíntia chega à sala, saída do banho, e Rubens está sentado ao chão, pelado, acaba de abrir um latão de cerveja.
- Rubens - começa Cíntia -, quero falar que o que aconteceu lá no quarto, eu não ter ficado de quatro, não é nada contra você, nada pessoal.
Eu sei - pensa, mas não diz, Rubens - é contra todos os homens do mundo.
- Tudo bem, sem problema, não tem que explicar nada - diz Rubens, na esperança de encerrar o assunto. Não sabe o que é pior. Não ter comido o rabão de Cíntia ou ter de ouvir a explicação dela do por que não. Aliás, sabe : a explicação é pior. E mesmo desobrigada por Rubens de dá-la, a explicação vem. Puta que o pariu se vem. Rubens toma um longo gole e se prepara pro baque.
- O homem, Rubens, sempre fez questão de impor o seu jugo machista e opressor à mulher, a todo momento, em todas as situações. Sabe-a mais capaz que ele e sempre teve medo de que ela descobrisse isso. Principalmente no sexo, área em que a mulher é claramente superior, pois não pode o homem conceber e gerar e nem gozar múltiplas vezes.
- Eu gosto de ver a mulher gozando várias vezes antes de mim. Gosto de oprimir a mulher a gozar duas, três, quatro, cinco vezes...
- É sério, Rubens, não estou dizendo que você seja assim, ou que o faça conscientemente, mas faz. Quis me pôr de quatro, não quis?
- Impressão sua, eu só tava me ajeitando na cama, me levantando um pouco, dor nas costas, sabe?
- Pensa que tô brincando, né? Com medo da mulher, para controlá-la, para não deixar que ela descubra a própria força sexual, o homem a submete a posições humilhantes durante o sexo, posições que lhe dão o controle total das ações e movimentos. A mulher é posta na cama como uma cadela, como um fêmea irracional e sem vontade, como se às mercês, meramente, de seu cio biológico e de seu patrão, o homem.
Ai, meu saco - pensa Rubens -, não tem buceta que valha tanto. Toma outro gole e mata o latão. Vai até a cozinha e volta com outro. Só para si.
- Olha - diz Rubens -, se você tivesse ficado só um pouquinho de quatro, só um pouquinho, garanto que não a denunciaria ao Femen, ou ao Women's Liberation Front.
- Já falei que não é brincadeira, Rubens. Ir por cima, transar de frente, olhando o homem nos olhos, em condições de igualdade, foi uma lenta e difícil conquista feminina. Ter ficado de quatro pra você seria desrespeitar toda a luta das mulheres que me precederam, jogar ao lixo anos de luta feminista, seria, aos poucos, ir minando, solapando esse direito duramente conquistado.
- Sei - diz Rubens.
- Não, não sabe. A  mulher que se submete a fazer sexo na vexatória posição de quatro, de cadela, de vaca, se anula como indivíduo, se desapodera de sua condição de mulher, vira apenas um receptáculo de líquido seminal.
Porra! - pensa Rubens, mas se limita a dizer :
- Entendo - e dá outra talagada, drena o latão, pensa no quão caro essa buceta estava lhe custando. Vai até a cozinha e pega mais um. Só para si.
- Não, Rubens, na verdade, você não entende. Você foi educado para ser homem. Não tem como entender.
Rubens respira fundo. Decide que a remota possibilidade de um segundo round com Cíntia não vale o discurso dela. Nem de longe.
- Na verdade, Cíntia, eu não fui educado para ser homem. Fui programado biologicamente para ser homem. Lembra daquelas coisinhas, daqueles pequenos detalhes, dos cromossomos XX e XY? A natureza me deu um pau, não a sociedade machista. O meu cacete, Cíntia, no qual, ainda há pouco, você rebolou e se derreteu, não é uma construção social, porra. É carne, corpos cavernosos e sangue do bom bombando.
Toma outro gole. Dois.
- Me diz, caralho, onde foi que a coisa se perdeu, Cíntia. Quando foi que as pessoas passaram a levar posicionamentos políticos e ideológicos para a cama? Para a cama, Cíntia, deve-se ter a decência e o respeito de levar, simplesmente, uma buceta molhada e um pau duro. Não é à toa o número cada vez maior de balzaquianas, para cima, encalhadas, sem um homem para chamar de seu. O cara sai para meter numa mulher e acaba tendo que comer uma cartilha ideológica. O sujeito some, mesmo. Não liga nunca mais. E, depois, ele é dito o canalha. Que ereção resiste à militância e panfletagem, ora porra?
Entorna raivosamente o resto do latão. Em três goles sucessivos, sem respirar. Rubens bebe mais rápido quando fica puto da vida. Já viu que daquela buceta não sai mais coelho. Do cu, então... melhor nem tentar, sob pena de ter que ouvir sobre a sua potencial homossexualidade enrustida etc etc. Vai pra cozinha.
- Admito que haja um pouco de excesso da parte de certas alas mais radicais, Rubens - começa Cíntia, quando Rubens chega da cozinha com outra lata. De novo, só para si.
- Olha, acho que essa deve ser a terceira ou a quarta lata que você pega, não vai perguntar se eu também quero e trazer uma para mim?
- Normalmente, eu já teria trazido, mas vá que ir à geladeira e pegar a cerveja por conta e vontade próprias também seja uma importante conquista feminina? Quem sou eu para querer me opor, minar e solapar esse direito conseguido às duras penas?
Cíntia se levanta. Vai ao quarto, se veste e sai. Bate a porta. Desce as escadas pisando duro.
Rubens relaxa. Respira aliviado. Escarrapacha-se sentado no chão da sala. Saco raspando no tapete.
Praga do Calil, sem dúvida - conclui.

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