Cacildis!!!

O ator Grande Otelo, por considerar o sambista Antônio Carlos Bernardes Gomes dotado de atributos assemelhados ao do mussum - peixe escorregadio, esquivo e liso, que se safa facilmente de situações embaraçosas -, apelidou o músico de Mussum. O apelido pegou fácil. E Antônio Carlos, em Mussum, tornou-se. Aliás, tornoussis!
Em 1973, a convite do amigo Manfried Santanna, o Dedé Santana, Mussum tornou-se Trapalhão. Tornou-se, não. Apenas assumiu publicamente a sua condição de. Mussum foi o Trapalhão por excelência. O mais original e autêntico deles. Dos quatro, Mussum era o único que não representava um personagem. Mussum era ele. Não lhe careciam scripts nem roteiris.
Mussum era o nosso embaixador da cachacis! O diplomata da biritis! O cônsul da caninha! O nosso adido cultural do mé! Mussum não bebericava, não degustava. Mussum dava uma beiçadis.
Mussum entrava no buteco - o balconista era sempre o ator Carlos Kurt -, mandava o Alemão medir um metro de pinguis no balcão e pedia pra embrulhar pra viagem. Ou chegava para o mesmo Carlos Kurt e pedia : me vê aí um leite de capivaris! Não temos, respondia o Alemão. Então, me vê aí um leite de jaguatiriquis! Não temos, respondia, de novo, o Alemão. Então, me vê aí um leite de elefantis. Também não temos, senhor, dizia o Alemão já às raias da paciência. Aí, Mussum tirava seu surrado chapéu da cabeça, levava-o ao peito, dirigia seu olhar ao Céu e dizia : o Senhor é testemunhis de que eu queria tomar leitis! Vira-se para o Alemão e dizia : então, me vê aí um mézis. Ou tentava, sempre escudado pelo "nojento" Tião Macalé, jogar um fiado para cima do Didi, armar uma pindureta no bar do cearense cabecinha de bater bife. Mussum dizia que eles eram da elite do morro da Mangueira, membros da diretoria, da família do Kunta Kinte, garantia Tião Macalé. Ou, ainda, na véspera de Natal, incumbido pelos amigos de dar pinga prum peru e amaciar-lhe a carne para a ceia, Mussum começa a beber junto com o peru. Segue monólogo de Mussum com o peru : "Seu piruzis, o senhor é do sindicatis? Da rapaziada que vai à lutis? O senhor mata o bicho? O senhor sabe beber socialmentis? Então tá convidadis pra dar uma beiçada... Vai, vai cumpade, dá uma pancadis..." Quando os amigos retornam, encontram Mussum e o peru bêbados e abraçados. Mussum os encara e diz : "se tocar um dedo no meu amigo, eu te mato... ele é do sindicatis..."
Para Mussum, era melhor melhor ser um bêbado conhecidis do que um alcoólatra anonimis.
Mussum morreu em 29 de julho de 1994, aos 53 anos. Não de cirrose hepática como muitos podem supor, sim de complicações por conta de um transplante de coração. Aliás, o Mussum não morreu, ele se pirulitou ("eu vou me pirulitazis", dizia quando a coisa ficava pretis).
Quase vinte anos após a sua morte, em 2013, Mussum recebeu a maior homenagem que pode ser prestada a um biriteiro de alma. Um de seus filhos, Sandro Gomes, se associou à cervejaria Brassaria Ampolis e, juntos, lançaram uma linha de cervejas com o nome do Trapalhão, a qual conta, hoje, com quatro títulos, a Biritis, a Cacildis, a Forévis e a Ditriguis.
Inicialmente as brejas do Mussum foram lançadas em ampolas, ops, em ampolis de 600 ml e produzidas artesanalmente em pequena escala; ou seja, com um preço, ao contrário de Mussum, nada engraçado. Nunca a tomara, portanto.
Até que, ontem, ao passar por um posto de combustíveis, um cartaz à entrada de sua loja de conveniência me chamou a atenção. Estava lá : Cerveja Cacildis (350 ml), R$ 3,19. A cerveja Cacildis transpôs os limites da garrafis e, agora, é produzida também em latis. 
Para os meus padrões, ainda num preço caro, porém praticável. Comprei duas. E é boa. Excelentis. Puro malte, coloração dourada, aroma que lembra um pouco um pão quentinho comprado à padaria, talvez pela fermentação do malte.
Continuarei a comprar a Cacildis? Muito provavelmente não. Hoje à noite estarei de volta às minhas boas e baratas. Só foi mesmo para experimentar, para prestar vassalagem ao mestre Mussum e para guardar a latinha.
Como de fatis!

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10 Comentários

  1. Tive o privilégio de ver o programa deles nos anos 80; nas férias de inicio e meio de ano, era programa certo ir ao cinema vê los também. Tempo bom onde o brasil (minúsculo mesmo) ainda nem imaginava que porra era o politicamente 'corretis'; coisa que esse programa estava longe mesmo de ser. Se lançado hoje mas nos moldes da época, no mínimo, toda equipe teriam beoncas com a justiça e os justiceiros sociais de plantão. Ah, o Mussum também era meu trapalhao preferido. Era ele e mais 3.

    Cássio - Recife/PE

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    1. Sem dúvida, hoje iriam todos os quatro presos. E mais os redatores do programa, os câmeras, os contrarregras etc. Realmente, vivemos tempos de merda.

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  2. Rapaz, tá quase "de gracis". R$3,19? Tenho até vergonha de dizer quanto paguei na Biritis. Sem frescura de degustação, mas essa eu recomendo tu experimentar.

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  3. Agora que tomou uma puro malte, nunca mais tomará aquelas ruins e baratas que tanto propaga. Está lascado, ou melhor, lascadis.

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    1. Você é que pensis!!! Já estou, nesse momento, matando mais um latão de Crystal!

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    2. Azarão, tu és macho e corajoso mesmo.

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    3. Corajoso por tomar essas merdas, tudo bem; agora macho, aí já é demais, kkkkkk

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  4. Rapaiz.....ainda vivo no final de 2018......e bebendo as baratas.....é um parlapatao msm

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    1. Pããããta que o pariu!!!Estava mesmo pensando em você hoje, querendo marcar uma boa e barata gelada. Parlapatão? Que vocabulário inusitado é esse? Tem certeza de que sabe o significado?
      Vamos marcar uma pra depois do Ano Novo.
      em tempo : a Cacildis é boa mesmo.

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