VEGETANDO

Há uma incorreção em relação ao termo que dá nome a esta postagem, vegetando. Incorreção não no vocábulo em si, mas sim no sentido coloquial e mundano atribuído a ele; sentido esse que, inclusive, os dicionários corroboram em uma de suas acepções.
Vegetar, aos olhos e na voz dos léxicos humanos (que isso fique bem claro), significa : levar uma existência sem atividades, inútil, improdutiva, inerte etc etc.
Nada mais equivocado. E preconceituoso, por parte do bicho homem. Nada pode ser mais diligente que uma planta. Os vegetais obviamente não se deslocam, mas daí a estarem "parados", vai uma distância muito grande.
Nada é mais dinâmico, ativo e produtivo que o ato de vegetar. Cada célula da planta é um laboratório de primeiríssima linha operando a todo vapor, seus fornos, cadinhos e retortas trabalham em ritmo frenético - se comparadas a elas, as nossas células, as dos animais, são laboratoriozinhos de escola secundária; pública, ainda por cima.
Vegetar, portanto, em seu real sentido biológico, se justiça fosse feita aos vegetais, ou se uma samambaia pudesse escrever um dicionário, é o extremo avesso do estabelecido pelo senso comum, é atividade elaborada e ininterrupta.
Vegetar, entre outras coisas, significa recolher e processar substâncias simples do meio, como água e gás carbônico, e vertê-las em matéria orgânica (conhecida popularmente como alimento, rango) e gás oxigênio. Só isso! 
Você é capaz de uma proeza dessas, humano pretensioso, suprassumo da criação?
Antes a menina da ilustração, de John Holford, estivesse mesmo a vegetar. Ela e toda a geração atual de jovens, doentes, dependentes físicos e psicológicos dos telefones celulares. Ela e toda essa geração de jovens conectada (leia-se, agrilhoada) à matrix, alheia à realidade.
Antes a moça estivesse a vegetar. Antes estivesse a recolher informações, elementos e dados do mundo que a cerca e os processando, desconstruindo-os, recombinando-os, produzindo seus próprios pensamentos e pontos de vista, o seu próprio "oxigênio". Mas não. 
O termo correto para a ilustração, uma vez que meu enfoque é na menina, e não na hera que sobe por ela, é morgando. De morgue. Necrotério.
Mudando o foco, concentrando-me na hera, o título está perfeito, fidedigno, vegetando. A hera vegeta soberbamente, alastra-se de forma exuberante, brota a plenos sentidos, escala a menina como quem estivesse indistintamente aderindo a uma encosta íngreme, a um paredão rochoso, à fachada sombreada de uma casa, a um muro com infiltração. Pouca coisa mais que isso, a menina é.

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