Poderia ter ficado mais um pouco à cama, o poeta,
Mas ainda assim levantou;
O poeta coou seu café amargo,
Café que já é mais rotina que vício
E de vícios precisa o poeta
Da rotina, apenas para morrer;
O poeta alimentou os gatos
(sua única poesia do dia),
O poeta varreu, esfregou, encerou
Em faxina geral, gastou-se o poeta;
O poeta foi ao supermercado,
Enfrentou as filas dos frios, do varejão e do caixa, o poeta,
O poeta enfrentou a burrice humana,
À caça pelas prateleiras de cores e coisas inúteis, a burrice humana,
O poeta achou que conseguiu não se exasperar muito;
O poeta cozinhou o almoço,
O poeta esperou o almoço cozinhar a tomar aguada cervejinha.
O poeta comeu muito,
O poeta ainda tinha fome,
Não do tipo que se aplaca com algo mastigável, a fome a persistir no poeta;
O poeta cochilou vespertino,
Abatido pela leseira pós-prandial, o poeta.
O poeta despertou 3/4 de hora depois,
Ressaca de um dia perdido azedava a boca do poeta,
O poeta não encontrou quem ele queria ter encontrado,
O poeta não escreveu o que ele queria ter escrito;
O poeta esperou a noite adiantar-se,
O poeta foi dormir;
O poeta tem emprego chato e estável amanhã pela manhã.
2 Comentários
Marreta,
ResponderExcluirVocê deve conhecer o poema "O elixir do pajé", do Bernardo Guimarães. Se não conhece, está disponível na internet. Tenho certeza que gostará muito. Blogson
Não conheço, não. Do Bernardo Guimarães, só sei da Escrava Isaura. Vou conferir o poema e postarei aqui.
ExcluirValeu pela dica.
abraço