A Lenda da Piroga de Cristal

Em todo 31 de outubro, posto aqui um texto sobre o Dia do Saci, data criada por Aldo Rebelo em contraposição ao enlatado Halloween, o dia das bruxas dos ianques.
Homenagem mais que justa e merecida. O Saci, em minha imodesta opinião, é a figura folclórica que, para o bem e para o mal, melhor representa o brasileiro. O Saci é o Macunaíma de uma perna só!
Na homenagem desse ano, nos comentários do blog, fui indevidamente zoado pelo meu velho camarada Marcellão, que duvidou de meu civismo folclórico e da brasilidade de minhas sinceras palavras ao perneta de barrete vermelho, só pelo fato de que eu, em minha adolescência e parte da vida adulta, fui grande aficionado dos quadrinhos de super-heróis, produto genuinamente ianque, estadunidense por excelência.
Suas exatas palavras foram : "Mestre Azarão, quanta brasilidade, eu até coloquei aquarela do Brasil para ler suas Gonçalvesdianas palavras. Palavras essas que deixariam um amigo meu um tanto embaraçado, sabe por quê? Pasme, grande mestre, ele é fã de ..quadrinhos Americanos, sim, e o pior ele é fã de um dos maiores ícones do "american way of life" o Capitão América e o pior de tudo: ele não me empresta o Heróis da TV número 5. É brincadeira ? Viva o saci!" 
Amigo é pra essas coisas : pra nos ferrar, pra botar no nosso rabo! Ou, pelo menos, para tentar. Tiro o meu da reta a dizer que, no fim das contas, interesso-me por lendas e mitos em geral. O que são os super-heróis, se não os deuses e semideuses modernos do panteão da cultura pop? Quem pode negar toda a mitologia por detrás do Super-homem, do Homem Aranha etc? Há mesmo deuses antigos inseridos e adaptados à mitologia dos super-heróis, Thor, Hércules, Odin, Hipólita, a rainha das amazonas e outros.
E para provar que sou grande entusiasta da mitologia tupiniquim, aproveito o ensejo para divulgar uma das lendas mais belas e românticas do folclore amazônico, e uma das mais desconhecidas também : A Lenda da Piroga de Cristal. Piroga, como todo mundo sabe, é aquela canoa indígena feita a se escavar um único tronco de árvore e, por isso, de tamanho variável. Tem índio com piroga grande, tem índio com piroga pequena e tem índio com piroga enooorme, como é o caso do índio da lenda em questão, o Boi Xavante, que confeccionou sua piroga a partir de um imponente jequitibá.
A lenda é cantada em música e verso por um dos maiores estudiosos de nosso folclore, o também comediante Paulo Silvino - ah! como era grande...
E antes que eu me esqueça, Marcellão : vá arrumar uma piroga pra envernizar!!!

A Lenda da Piroga da Cristal
(Paulo Silvino)
Como era grande a piroga dele
Descendo o rio, correndo pro mar
Como era grande a piroga dele
Descendo o rio, correndo pro mar


Falado: "Essa é a lenda da Piroga de Cristal. Uma história escrita num tempo muito remoto, quando o Brasil nem era Brasil: era Pindorama. As pirogas, como vocês sabem, são as canoas dos índios. E tem índio com piroga pequena, piroga grande, depende do tamanho das árvores que eles derrubam para esculpir no seu tronco a piroga. Essa lenda conta o caso do índio Boi Xavante que derrubou um enorme Jequitibá e fez uma piroga imensa que ele mantinha sempre envernizada com óleo de carnaúba. Ele era muito repeitado na tribo toda por causa disso, porque ele alimentava toda a tribo com aquela piroga. Voltava sempre da pesca com a piroga cheia de peixe, e de vez em quando vinha até um siri preso na piroga. Era uma loucura! Até que um dia…"

Como era grande a piroga dele
Descendo o rio, correndo pro mar
Como era grande a piroga dele
Descendo o rio, correndo pro mar


Boi Xavante, índio bravo
Com um enorme pirogão
Raptou a índia filha
Do cacique Gavião

Seu marido, Cão do Norte
Aliou-se ao Pajé
Procurando vingar com a morte
A desonra da mulher


Destruam a piroga dele
Botem fogo na piroga dele
Pulverizem a piroga dele
Acabem com a piroga dele


Mas, Jaci ouviu
As preces do casal
E transformou a embarcação do Boi Xavante
Numa bela piroga de cristal

Mas a índia estabanada
Foi dançar de empolgação
Deu com o pé na bola errada
E quebrou o pirogão


Como era grande a piroga dele
Descendo o rio, correndo pro mar
Como era grande a piroga dele
Descendo o rio, correndo pro mar


Destruam a piroga dele
Botem fogo na piroga dele
Pulverizem a piroga dele
Acabem com a piroga dele

Destruam a piroga dele
Botem fogo na piroga dele
Pulverizem a piroga dele
Acabem com a piroga dele


Mas, Jaci ouviu
As preces do casal
E transformou a embarcação do Boi Xavante
Numa bela piroga de cristal

Mas a índia estabanada
Foi dançar de empolgação
Deu com o pé na bola errada
E quebrou o pirogão


Como era grande a piroga dele
Descendo o rio, correndo pro mar
Como era grande a piroga dele
Descendo o rio, correndo pro mar.

Para ouvir a música, é só clicar aqui, no meu poderoso PIROGÃO. E para a postagem do Saci, aqui, no meu poderoso MARRETÃO.

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