Pequeno Conto Noturno (46)

Martina chega ao apartamento de Rubens ao crepúsculo. Para o que se planejara uma noite de vinhos, queijos (mais vinho, o queijo é mero pretexto, acompanhamento) e sexo (mais sexo, o vinho e o queijo são meros pretextos, acompanhamentos).
À primeira golada da segunda garrafa desarrolhada, as regras de Martina, que, por regra, viriam em dois dias, fazem-se exceção. 
Rubens não esmorece, não dá a noite como perdida; anima-se, pelo contrário. Rubens gosta de emporcalhar-se em sangue infecundo, do cheiro, cor, densidade, de se sentir grudento e viscoso. De celebrar a vida ronca-e-fuçando numa poça de sangue renegado, estéril, do qual nenhuma vida pode surgir.
Porém, Martina, em seus dias de impedimento, sente-se e se queda mesmo impedida. Desconforto verdadeiro ou bloqueios morais e sociais, Martina não se dispõe a participar da dança da chuva rubra de Rubens.
Bebem um pouco mais. Ao fim da segunda garrafa, Martina se despede de Rubens, ligará para combinarem nova oportunidade.
Sozinho, Rubens tira a roupa, veste um cuecão frouxo, abre outra garrafa, senta-se à sacada e fica a vislumbrar o céu, até onde sua limitada visão o permite divisar o Universo; tomando direto no gargalo e mexendo em suas bolas.
Inadvertidamente, uma ereção das boas se pronuncia em Rubens. Dessas sem motivos, sem mais o quê, que vêm quando se está distraído, relaxado, absorto. Na idade de Rubens, ereção é coisa preciosa, que não pode ser ignorada, muito menos desperdiçada.
Toma outra boa talagada, tira o pau pelo lado esquerdo da cueca e toca um punhetão em intenção de Virna (Pequeno Conto Noturno 9). Goza, põe o pau pra dentro, limpa parte da porra na cueca, parte na perna e parte fica a secar e a craquelar na mão.
Mais relaxado, entorna o resto da garrafa, volta com outra da cozinha, senta-se e, de novo, põe-se a contemplar o céu, a perscrutar o espaço negro e estrelado.
Toda essa merda - pensa Rubens - nasceu de uma colossal esporrada de um deus pervertido. É isso mesmo - Rubens num lampejo de pensamento -, o Big Bang foi uma puta de uma esporrada de deus. Deus estava lá, filho da puta como sempre, sem dar uma trepada há milhões, bilhões de anos, ou de eras, ou de eons, ou seja lá a unidade de tempo em que é medida a rotina de deus. Pudera, com quem uma singularidade poderia trepar?
Então, com porra a sair pelo ladrão, com o saco doendo, latejando pra caralho (literalmente), deus tocou uma punheta terapêutica pensando nele mesmo e a porra toda se espalhou, sêmen de átomos de hidrogênio para tudo quanto é lado, para tudo quanto é confim do Universo; aliás, criando os lados, os confins, o Universo.
É o que somos - conclui Rubens, sorriso sardônico no canto esquerdo da boca -, somos porra de deus jogada ao não-tempo, ao acaso, à sorte. À falta da buceta de Martina, Rubens se satisfaz com o insight sobre a porra de deus. 
À luz dessa revelação, só resta uma coisa a ser feita, decide Rubens. Levanta-se, equilibra-se na amurada da sacada, três andares acima da rua, tira o pau e mija feito um cavalo sobre o pequeno jardim à entrada do prédio. Abre os braços, inclina a cabeça o mais que pode para o alto e berra aos céus : - Deus, vá tomar no cu!!!

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