Não tenho telefone celular
(nunca tive),
Conexões, rede sociais, humanos wi-fi,
Desprezo-os.
De fios no cu e chips na cabeça,
Sou livre.
Salvo os de parque de diversões,
Salvo os de trombada,
Nunca dirigi um carro
(nem tenho CNH),
Na hora H
São minhas raquíticas e varicosas
Não obstante confiáveis pernas que me valem.
Não acredito em deus
(nunca cri)
Não dou bom-dia ritualístico
Para colegas de trabalho nem para inimigos,
Por meras convenções sociais,
Nunca ri.
Também não dou bom-dia ao amigo :
Não sou de redundâncias.
Tenho bons dentes
(cuido deles),
Mas não necessariamente um belo sorriso
(dele não cuido, não o treino).
Meus dentes, os tenho
- Cartões de não-visita
(de não me visitem) -,
Como qualquer animal que quer sossego os têm
E os arreganha em rosnado.
"Meu sorriso", porém,
É só força de expressão,
É só modo de dizer :
Não é meu,
É um ser à parte,
Parasita alienígena,
Meu oitavo passageiro.
Apenas me habita,
Incubado,
Vírus da herpes :
Só surge pleno
Contagiante e contagioso
Quando minhas defesas se distraem ou são iludidas,
Quando me cai a resistência.
1 Comentários
Mandou muito bem!
ResponderExcluirEngraçado, eu sou o oposto disso. Sou uma verdadeira hiena, tenho até câimbra na boca de tanto rir e sorrir para todo mundo, mesmo sem querer, mesmo sem precisar. Por isso, tenho fama de "legal", de "popular". Mas, como sou genuinamente anti-social (mesmo que ninguém perceba isso, pois ninguém nunca percebe nada, a bem da verdade), fico como na piada do Ziraldo no velho Pasquim: "Só dói quando eu rio".