Satélite Fujão

Onde se desvencilhou de mim
O meu passado?
(Feito sombra a se desgrudar de Peter Pan)
Em que manhã de segunda,
Em que madrugada de sábado?
Nos perdemos em qual rodoviária
Em qual baldeação
Em qual translado?

Por quais espremidas vielas
Se libertou 
E se ampliou de mim o meu passado,
Por quais anchas
Largas, despregueadas
E diarreicas avenidas
Expurgou-se de mim?

Passa ao meu lado
Disfarçado
Ou sem maquiagem
Nu e impudente
A fusos horários e milhas?
Por que trilhas tomou outros atalhos
Outros personagens
Outros desatinos?
Em que ilha brumosa
Asilou-se
Em que miragem
Em que dourados velocinos?

Em que filas espera pelo futuro
O meu passado,
Que não mais o encontro
Que não mais o vejo?
Na de que banco
Na de que padaria
Na de que supermercado
Na de que hospital da alma
Da libido 
Da gramática?
Qual será agora
Sua rota errática
Que não mais tromba
Não mais se acerta com a minha?
Em que olorosos e escusos cafés?
Em que enfumaçados e escuros bares de rock?

De que outro planeta
Meu passado se tornou satélite?
De que outros versos,
Lua cheia, túrgida e lactante?

(E um aposentado, barrigudo e inapetente Nite Owl pergunta ao psicótico e inquebrantável Rorschach : - Oh, sim... sim! Bons tempos, Rorschach! O que aconteceu com eles? Rorschach responde : - Você desistiu deles! - E some no túnel escuro, torna-se noite na noite)

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