A Paixão de Neymar (Ou : "Os Simpsons" Prevê a Lesão de El Divo)

Na 13ª temporada da série animada "Os Simpsons", a família criada pelo genial e politicamente incorreto Matt Groening visita o Brasil, no episódio intitulado "Blame it on Lisa", que gerou tanta polêmica, deu tanto quiproquó, que nem chegou a ser exibido pela tv aberta brasileira.
Um simples desenho animado causou tanta comoção, feriu tanto o orgulh0 desdentado e analfabeto nacional, que até o então presidente Fernando Henrique Cardoso, mostrando quais são as reais preocupações de nossos governantes, sejam eles de que partido forem, opinou sobre o controverso episódio, disse que 'Blame it on Lisa', traduzido como 'O feitiço de Lisa', trazia uma visão distorcida do país.
Nele, a  família mais desconjuntada de Springfield viaja para o Rio de Janeiro e, entre outras piadas ao melhor estilo da série, hospeda-se em um hotel em que os funcionários fazem embaixadinhas com as malas no saguão, dá de cara com macacos saracoteando pelas ruas da Cidade Maravilhosa cheia de encantos mil e tem seu patriarca, Hommer Simpson, sequestrado por um taxista.
Visão distorcida e estereotipada do Brasil? A parte dos macacos, talvez.
Agora, já na 25ª temporada do seriado, Matt Groening volta à carga, e os Simpsons, ao Brasil. No episódio especial, “You don’t have to live like a referee” (Você não precisa viver como um árbitro), Hommer Simpson torna-se um árbitro da FIFA, apita a final da Copa do Mundo 2014, entre Brasil e Alemanha, e prevê a desgraça de Neymar.
No desenho, Neymar, chamado de El Divo, é gravemente derrubado na pequena área, mas Hommer Simpson não se deixa enganar pela firula do jogador, garante que o craque tentou cavar o pênalti e não marca a penalidade máxima contra a Alemanha, que vence a contenda por 2 x 0. Na sequência, ocorre o funeral de El Divo, morto em virtude da contusão sofrida em campo. Hommer está presente e, mesmo ao pé da sepultura do jogador, grita : Não foi pênalti.
Matt Groening é mesmo genial, atira contra tudo e contra todos, no episódio, sobra também para os alemães : durante a final, a torcida brasileira xinga os germânicos com gritos de 'nazistas'; os alemães, também cobertos de razão, retrucam e xingam os brasileiros de 'protetores de nazistas' – uma referência aos nazistas que, após a segunda guerra mundial, fugiram para países da América do Sul, como o Brasil, e onde foram muito bem acolhidos, onde morreram em tranquila velhice.
Abaixo, o vaticínio de Matt Groening e a imagem da real lesão de Neymar.
Não vou dizer que lamento a contusão infligida a Neymar, que acarretou, obviamente, na sua eliminação dos jogos subsequentes e na perda do grande trunfo da seleção brasileira, mas, ao contrário do que muitos que me conhecem possam pensar, muito menos a festejo. Não soltei rojões por causa dela.
É claro que eu gostaria de ver esse boçal (e todos os outros, incluindo os reservas ), transformado em semideus por um país de analfabetos (deuses e fiéis guardam mesmo relação de imagem e semelhança), sair derrotado de campo, chorando, como agora é hábito da seleção do Felipão.
Mas não assim, assim não tem graça, assim dói bem menos para ele. Quereria-o em sofrimento maior. Quereria-o derrotado em um jogo justo, suplantado em posse de suas plenas capacidades físicas, subjugado em campo pelo adversário, derrotado e humilhado dentro da "arte" que diz dominar e da qual é proclamado expoente máximo.
Quereria-o exposto ao mundo como a grande fraude que é, como o grande produto oco de marketing. Isso doeria muito mais, muito mais que qualquer fratura. E me daria muito mais prazer.
Neymar não só escapou da humilhação em campo como também periga, agora, se tornar um mártir. Pior que um mártir : caso a seleção seja eliminada nos próximos jogos - e eu torço muito para quê -, ele se tornará a esperança rediviva para a Copa de 2018, um predestinado, o "escolhido" pelos deuses do futebol, o salvador da pátria de chuteiras
Não tenham dúvidas, em país de futebol e cristianismo, a dor e a "injustiça" impostas a Neymar o elevarão à condição de messias. Neymar será o messias da Copa de 2018.
A todo e qualquer predestinado cabe um estágio probatório de suplício e martírio, seguido da superação e de sua gloriosa ascensão aos céus. O sofrimento é uma espécie de fase larval do "escolhido", do qual emerge ressurrecto, na glória do Pai. Não é assim? Pois essa lesão é o gólgota do escolhido Neymar. Não duvidem : estamos a assistir "A Paixão de Neymar".
De quebra, a selecinha do Brasil ganhou a desculpa de que precisava. Caso seja batida na semifinal ou na final, derrota que agora parece mais iminente, a explicação para a incompetência coletiva já está pronta, já lhes foi dada de bandeja : não ganhamos porque o inimigo, impiedoso e traiçoeiro, estropiou o Neymar.
Por isso, digo que não festejo a saída de Neymar da Copa : quereria-o derrotado, não engrandecido ainda mais em seu embuste. Não canonizado em sua insignificância.

Em tempo : e quando Neymar deu uma puta duma cotovelada no nariz do croata Modric? Tadinho do Neymar, né? Tem que se fuder mesmo. Veja : https://www.youtube.com/watch?v=Ecu6YKUEjBQ

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1 Comentários

  1. Concordo com você, gostaria de ver o Brasil ser eliminado com o que tem de "melhor". Quanto a 2018, não acredito que ele fará diferença, muito pelo contrário, acho que essa lesão será a desculpa perfeita para o caso da carreira dele não deslanchar ( em Copas, melhor do mundo, essas coisas).

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