O estado de São Paulo, o mais rico da 7ª nação mais rica do mundo, responsável por 1/3 da arrecadação nacional, paga aos seus professores ingressantes, aprovados em concurso de provas e títulos etc, a nababesca quantia de R$ 10,52 por hora/aula. Considerando que o professor ingressa com uma jornada inicial de 20 aulas semanais e que o salário mensal é calculado em cima de 4,5 semanas, o noviço no magistério terá um rendimento bruto de R$ 946,80. Bruto. No ano seguinte, o professor pode ampliar sua carga horária até um máximo de 40 aulas semanais, passando a receber a faraônica monta de R$ 1894,12 mensais. Aí é que o cara não sabe mesmo o que fazer com tanto dinheiro.
Os dados são do próprio site da Educação do Estado de São Paulo :
"Os docentes da rede estadual de ensino paulista recebem atualmente um
salário-base 59,5% superior ao piso nacional atual. Um professor de
educação básica que leciona no ciclo II do Ensino Fundamental e no
Ensino Médio, com jornada de 40 horas semanais, tem hoje um salário-base
de R$ 1.894,12, ou seja, 59,5% maior do que os R$ 1.187,97 definidos
atualmente na Lei do Piso para todas as Unidades da Federação."
Perceberam que o estado ainda se jacta de pagar tão mal para os seus professores?
Não tenham dúvidas : não há menor valor por hora trabalhada que o pago a um professor público. Pensem no quanto vale a hora da pessoa que corta o seu cabelo, a do último chaveiro, encanador ou eletricista de quem vocês tenham feito uso, a da diarista que limpa seus apartamentos em três ou quatro horas, e terão a real dimensão do que digo. Aliás, lápis, caderno e borracha são mais caros que o professor; o professor é o material escolar mais barato que existe. Só chinês trabalhando na fábrica da Nike ganha menos, se é quê.
E aí, a cada concurso realizado, a cada ingresso de nova safra docente, não demora e já começa a conversa costumeira, não demora e o governo tira o seu rabo da reta e coloca no do - adivinhem?- professor. Começa a noticiar que o professor é malformado, é incapaz; na verdade, ele usa o termo não capacitado, mas quer dizer a mesma merda.
Primeiro, se ele é malformado, é porque, em grande parte, graduou-se numa dessas faculdades de beira de estrada, numa dessas arapucas de curso superior, que funcionam com a aprovação do MEC. Aliás, bons tempos os das faculdades de beira de estrada, hoje, são virtuais, nem existem. Que tal o governo federal ser mais rigoroso na autorização da abertura de cursos superiores, sobretudo os tais à distância? Mas aí como é que ficam as pagas de favores, o toma lá, dá cá entre políticos e grandes empresários da educação? Como é que fica o leitinho das crianças?
Segundo, se o professor, aos olhos do Estado, é um incapaz, como é que ele foi aprovado num concurso realizado pelo próprio Estado? Qual é a do Estado? Primeiro me dá o emprego e depois me chama de inútil? Que tal, então, concursos mais severos, mais específicos, mais direcionados em cobrar o conhecimento que o Estado julga tornar alguém capaz? Que tal contratar professor para ser professor, e não babá de uma geração de filhos cuja educação os pais terceirizaram para o Estado?
Acontece que por novecentos reais por mês não dá pra selecionar muito, né? Não dá para dar uma peneirada minimamente decente. Profissionais bem e malformados existem em todas as áreas, mas quem vocês acham que um salário de menos de mil reais atrai? A nata da categoria? A elite?
Vai ser professor, hoje, o cara que ou é muito idealista (e são cada vez em menor número, pudera) ou o cara que não conseguiria ganhar os mesmos quase mil reais varrendo rua, ou catando latinhas para reciclagem, ou sendo flanelinha, ou fazendo malabarismos no sinal.
E a coisa já chegou a um ponto - e ainda piorará muito - em que ter o professor malformado em sala de aula nem é o pior; o pior é que, em certas disciplinas, não existe nem o malformado. Ou alguém acha que o sujeito que vai ser professor porque tem preguiça de ser flanelinha se formará em quê, em Química, Física? O cara vai é fazer pedagogia! Ou outra formação em Humanas, que, embora uma área de indiscutível relevância, como Letras, História, Geografia, teve, nos últimos tempos, sua importância canalhamente reduzida a cursos de dois ou três anos, e tudo à distância, um prato cheio para o vagabundo.
Há uma falta absurda de professores de química, física e ciências, mesmo dos malformados.
Então, o governo, como sempre não disposto a resolver efetivamente o problema, surge com mais uma de suas gambiarras ; inventou as disciplinas correlatas e afins.
O cara tem licenciatura plena em Matemática, curso que conta com x horas de Física em seu programa. Pronto, problema resolvido : automaticamente, o cara vira professor de física na falta de um licenciado específico. O sujeito tem habilitação plena em Biologia, curso que conta com x horas de Física, de Química e de Matemática em seu programa. Pronto, de novo : resolvida está a falta de licenciados específicos em tais disciplinas.
O governo anda a pegar professores a laço, está tentando aproveitar ao máximo o que tem nas mãos, usar, de todas as maneiras possíveis e inventáveis, os loucos que ainda se dispõem a ser professores. Faz o que faz e reclama de uma suposta falta de capacitação docente?
Diálogo durante uma atribuição de aulas, hipotético, mas perfeitamente plausível :
Diretor da escola : - O senhor tem licenciatura plena em Biologia, certo?"
Professor : - Isso.
Diretor da escola : - Também dá Física?
Professor : - Dou.
Diretor da escola : - Dá matemática?
Professor : - Dou.
Diretor da escola : - Dá ciências?
Professor : - Dou.
Diretor da escola : - Dá química?
Professor : - Dou.
Diretor da escola : - Dá a bunda?
Professor : Daria... mas não por esse preço.
Por esse preço, meus amigos, eu só dou aula. Por esse preço, não pinto uma parede, não troco uma tomada, não faço uma faxina.
3 Comentários
É...a coisa tá assim.
ResponderExcluirE você, pode dar o quê?
Excluirrsrs...como cada um dá o que tem, no meu caso é só Química mesmo. E vc Azarão?
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