A Caneca do Azarão

Certa vez, quebrou-lhe a asa
Ficamos engaiolados ao chão
Os dois.
Pus-lhe tala, gesso, cola branca
E uns dias de repouso.
Voltamos Ícaros às prova de Sol
Os dois.

Noutra vez, atacou-a legião de fungos
Azulamos, acinzentamos, gorgonzolizamos
Os dois.
Tratei-lhe com salmoura, peróxido de hidrogênio
Hipoclorito e a pus a quarar
Desemboloramos
Os dois.

Fustiga-a a idade
As cores baças e macilentas
Seu fundo craquelado
Esfarelento
Solo de semiárido infértil
Os dois.
Irrigo-a todas as noites
Dou-lhe soro caseiro
Fitoterápicos
Florais de bach da flor do lúpulo
Tornamo-nos
Lama, lodo, mangue
O barro primordial e amorfo, não moldado e assoprado.

Antes isso, antes ela
Que definhar
Que esturricar os sonhos
Que tornar ao pó
E ganhar uma casa popular num paraíso sem pecados -
A pureza e a invulnerabilidade são os maiores dos castigos.

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