O Passado À Casa Torna

O passado veio bater à minha porta
- Risonho, convidativo -,
Chamar-me pela campainha,
Anunciar-se pelo interfone.
O passado invadiu minhas correspondências,
Sem envelope educado nem selo,
Sem meu nome no verso.
Espalhou-se pela minha caixa de e-mails,
Meu pequeno mundo desabitado.
Quase lhe atendi,
Quase fui até ele,
Quase o mandei entrar.
Resolvi,
Com rara prudência,
Olhá-lo com meus olhos cansados de então,
Com os olhos presbiópicos do velho,
E não com os sempre vivos da memória
- Especialistas na arte do engano
E em restaurar quadros desbotados e imperfeitos.
Bloqueei, assim, o olho mágico de minha porta,
Cortei os fios da campainha e do interfone
- cordões umbilicais a quererem me puxar de volta, me desdar à luz -,
Deletei seus convites de minha caixa de e-mails,
Assinalei-o como Spam.
Dei-lhe um sorriso sem porvir :
Era só o passado.

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