É A Podridão, Meu Velho (3)

Quero,
De volta,
Não mais sentir meu corpo :
Tê-lo, mas não sabê-lo.
Não mais saber que tenho tendões,
Nos calcanhares, nos joelhos, nos punhos.
Não mais saber das agudíssimas farpas de bambu a trafegarem nas minhas articulações.

De volta,
Não mais saber que tenho coluna
Nem músculos costais,
Quando me sento ao sofá,
Quando me agacho para recolher cisco ao chão,
Ou uma moeda perdida,
Ou brinquedo espalhado do filho.
Não mais saber das pontas de cigarro acesas a substituirem meus discos intervertebrais.

De volta,
O corpo-utilitário,
O corpo-ferramenta,
O corpo-veículo,
Não o corpo-porões-da-ditadura.

Postar um comentário

0 Comentários