Mato Grosso Do Sul Barra Professor Doidão

Todo sujeito aprovado num concurso público de provas e títulos passa, em seguida, por uma avaliação médica que produzirá um laudo favorável, ou não, ao seu ingresso. 
Por ocasião de meu ingresso, o único exame feito a rigor foi o exame oftalmológico, o famoso exame de "vista", aquele com aquelas letrinhas com as "pernas" para baixo, para cima, para a direita, para a esquerda e dispostas em linhas com ordem decrescente de tamanho. Os outros foram feitos meio que a toque de caixa, mais para cumprir uma formalidade burocrática, mas isso já tem mais de 15 anos.
De uns anos para cá, parece ocorrer uma mudança nesse laudo burocrático, parece que está havendo o rigor necessário nos exames. Que muitas vezes de nada adianta, o indivíduo é barrado no exame médico, entra com recurso alegando preconceito e discriminação e logo está em sala de aula, ou melhor, logo está tirando licença-saúde ad infinitum, até a chegada de sua aposentadoria.
Um exemplo disso foi o caso ocorrido em fevereiro desse ano com as professoras obesas. A obesidade é considerada uma doença pela Organização Mundial de Saúde; portanto, os médicos que emitiram laudos desfavoráveis às gordinhas estavam no pleno cumprimento de seu dever e impediram o ingresso de pessoas incapazes de exercer o cargo a que se propunham. Resultado : os médicos foram acusados de preconceito e discriminação, as gordas ganharam o recurso e, hoje, estão por aí, em salas de aula, provavelmente mal conseguindo levantar o bundão da cadeira e mandando o aluno passar o "ponto" no quadro.
Coisa semelhante passará a acontecer, com certeza, em Mato Grosso do Sul, onde um exame a mais foi incluído para o laudo de professores : o toxicológico. O professor terá que provar que não é usuário de maconha ou cocaína - se o cara usar heroína, haxixe, ópio, crack, anfetaminas, barbitúricos, tarjas pretas, tudo bem? Segundo o documento, a etapa é obrigatória e "de caráter eliminatório" e servirá, juntamente com outros testes médicos e psicológicos, para medir a "aptidão física e mental" dos aprovados.
Vejamos alguns aspectos da questão.
Concordo com o exame se ele for ampliado para todos os outros cargos públicos, policiais, médicos, advogados, juízes, promotores, oficiais de justiça, faixineiros, todos; inclusive cargos eletivos, do vereador ao presidente da república.
Falei aqui, dia desses, do sucateamento do ensino básico e, agora, do superior. É a ralé que está saindo com um diploma das universidades, sobretudo das à distância. É necessário, sim e portanto, exames cada vez mais rígidos, toxicológicos, mesmo. 
O cara vai lidar com jovens facilmente influenciados pelo que é ruim, basta um cara desse dizer que consome sua maconhinha para o aluno ter a desculpa que ele precisava para também fumar. Ainda se o cara consumisse lá na casa dele e ficasse quieto, não fizesse alarde disso, fosse capaz de separar vida pessoal e profissional, nem haveria tanto problema. 
Mas a questão é que professor, hoje, virou amigo do aluno e falam de suas vidas pessoais em sala de aula, um conta pro outro de seus particulares. Um absurdo. Eu tomo minha cervejinha, mas jamais posso dizer numa sala de aula, como de fato nunca fiz, que cerveja é bom. Pelo contrário, por ocasião do assunto drogas, coloco o álcool no mesmo patamar das outras, digo-o tão viciante e prejudicial quanto qualquer outra droga ilegal.
Mas tem um outro lado. Com faculdades à distância sendo aprovadas pelo MEC - produzindo mais e mais ralé intelectual - e salários cada vez mais baixos pago aos professores, será que o Estado pode se dar ao luxo de escolher muito? No estado de SP, um professor recém-efetivado em seu cargo recebe cerca de R$ 900,00 por uma jornada de 25 aulas semanais. 
Será que dá para o Estado exigir sumidades em sala de aula autorizando cursos de formação de baixíssimo nível e pagando menos ao docente do que um catador de latinha angaria por mês? Será que dá pra ficar dizendo, esse é gordo, esse é vesgo, esse é míope, esse é maconheiro? Não. Infeliz e desgraçadamente, acho que não.
A decisão da Secretaria de Administração do MS, que diz exigir o exame para todos os outros concursos do estado, já está sendo criticada e combatida pelos trastes dos tais direitos humanos.
Paulo Ângelo de Souza, presidente do CDDH (Centro de Direitos Humanos Marçal de Souza), pretende levar o caso ao Ministério Público. "É uma exigência invasiva e descabida." Descabido, em minha imodesta opinião, é expor crianças a um desajustado social e mental, por exemplo. Mas, quase com certeza, se Paulo Ângelo de Souza tem filhos em idade escolar, eles não estudam em escola pública, aí fica fácil criticar.
Um outro defensor dos coitadinhos, o professor Roberto Magno, presidente da Fetems (Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul), disse que a entidade pediu que a exigência fosse retirada. "Achamos que é algo que irá expor as pessoas", alega. De novo, coloco aqui o mesmo contra-argumento da situação anterior. 
Parabéns ao estado do Mato Grosso do Sul pela louvável iniciativa. Pena que ela irá esbarrar e cair por terra frente à Constituição Brasileira, notória em defender o errado; não só em defendê-lo, antes de tudo, privilegiá-lo. 
Em tempo : ocorreu-me, agora, um meio-termo para a celeuma, um jeitinho brasileiro para se manter a obrigatoriedade legal do teste toxicológico e, ao mesmo tempo, não barrar ninguém, maconheiro ou não. Basta o estado de MS contratar o mesmo perito que realizou o exame toxicológico post mortem na Amy Winehouse, e nada achou. Pronto, assim fica todo mundo satisfeito.  Hoje, estou salomônico.

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