Armas : O Novo Ítem Do Material Escolar

Há aquela velha piada do cara que vai entrar numa boate, num bailão, num desses inferninhos quaisquer, e é abordado pelo segurança à porta que lhe revista e pergunta se ele está armado. Diante da negativa do sujeito, o segurança leva-o até um canto e, na surdina, passa-lhe uma faca. - Então, toma - diz o segurança - pra você não ter problema lá dentro.
E se ao invés de uma boate de quinta categoria, essa cena se desenrolasse à entrada de uma escola? Impossível? Não, desgraçadamente, não.
Depois do caso do menino que atirou na professora e, em seguida, se matou, várias outras ocorrências de alunos portando armas explodiram nos meios de comunicação. Não que esse tipo de fato seja novo, de forma alguma. 
Década de 1990 ainda, conheci alunos que andavam com armas em suas mochilas para terem alguma segurança na volta às suas casas, eram estudantes noturnos de escolas de periferia. Década de 1980 já, conheci um professor que andava com sua 765 na bolsa a tiracolo, dava aula num cafundó qualquer da Grande São Paulo.
Só folheando os jornais de ontem, encontrei três casos. Uma criança de 11 anos portando um calibre .38 numa escola de Belo Horizonte (MG), uma adolescente de 14 anos com uma pistola semiautomática 635 em Praia Grande (SP) e uma criança de 6 anos - isso mesmo, 6 anos - em Ribeirão Preto (SP) com uma faca na mochila, objeto fornecido pela própria mãe do aluno - exatamente, pela própria mãe.
A mãe alega que deu a faca para o filho se defender, vítima que vinha sendo de agressões dentro da escola. Eu acredito. Não justifica a imprudência da mãe, mas eu acredito na alegação dela.
As escolas (não só elas, mas marcadamente as públicas) não são mais um lugar seguro e salutar. Isso é mais uma das consequências da tal escola para todos, da hedionda "democratização" do ensino. Se a escola é "para todos", é para o bandido também. E é o que ocorre hoje. 
Marginais, adolescentes de má índole, circulam livremente pelas salas de aula e corredores escolares, traficam dentro das escolas, ameaçam alunos, professores e diretores. E se acontece de um diretor conseguir expulsar um verme desse, a mãe do coitadinho vai ao promotor, que ordena que a escola o acolha novamente.
A escola para todos, a escola democrática, dá acolhida ao vagabundo, ao imprestável, ao traste. E o bom aluno fica à mercê de sua sorte, totalmente vulnerável e desassistido. A escola virou uma espécie de embaixada para o mau elemento, o filho da puta é intocável dentro da escola. Se o policial pega o cara vendendo droga fora da escola, enfia-lhe lá umas bordoadas e tudo certo. Em ambiente escolar, o vagabundo ri da cara do policial, seguro de sua impunidade. A escola democrática virou porto seguro para o adolescente delinquente.
Tem que rasgar o Estatuto Da Criança e do Adolescente, o famigerado ECA, tem que botar essa molecada vagabunda pra pegar no cabo da enxada, com aquelas bolas de ferro presas aos tornozelos, quero ver se depois de manejar o pau de guatambu o dia todo, o cara ainda vai querer sair por aí enchendo o saco dos outros, dos que trabalham e estudam.
Há casos e mais casos de adolescentes que ganham na escola, com o tráfico, o sustento de sua família. Quando um lixo desse é posto para fora, a mãe corre ao promotor, não por preocupação com a formação filho, porra nenhuma. Ela corre ao promotor porque fora da escola o rendimento da família sofre brusca queda, o filho tem que estar na escola para continuar traficando. Isso acontece, não duvidem. Todos protegidos pelo ECA, por psicólogos, conselhos tutelares, pastorais da criança, sociólogos, pedagogos, assistentes sociais e outros pústulas. E quem protege o bom aluno?
Por isso, acredito na alegação da mãe que deu uma faca a seu filho de seis anos.
Posso até imaginar uma situação corriqueira num futuro não muito distante, parecida à da piada da boate. Cedinho, antes de sair para a escola, a mãe ajuda o filho a organizar e conferir o material escolar do dia, caderno de português, confere, caderno de matemática, confere, lápis, caneta e borracha, confere, lanche, confere. Meu filho, pergunta a mãe por último, você não está levando uma arma pra escola, não, né? Não, mamãe, responde a criança. Então toma essa faca, para você não ter problema lá dentro, diz a mãe e lhe beija a testa em despedida.
Curioso...Já não vejo tanta graça nessa piada.

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