Eu Sou o Homem Bicentenário

Dia desses, um anônimo(a), comentando um texto postado aqui, tentou injuriar-me. Antes pelo contrário, elogiou-me.
Chamou-me de um homem das exatas que escreve textos dignos de um das humanas. Não entendi direito. O ataque dele(a) foi aos das exatas ou aos das humanas? Dependendo de quem lê, e como lê, há tanto elogios como críticas às duas áreas em sua frase.
Um registro inicial se faz necessário : essa separação das ciências por áreas é puramente artificial, uma idiotia em seu estado mais bruto e mal-acabado. Todas as ciências são humanas; a menos que se considere a possibilidade de que ETs tenham nos legado os princípios e fundamentos da matemática, da química, da física e da biologia. Mas até que isso não seja provado, reafirmo : todas a ciências são humanas.
O que ocorre é que alguns conhecimentos humanos simplesmente não são ciência. Pedagogia, astrologia, sociologia, quiromancia, filosofia, psicologia etc etc. Essas áreas são tão díspares da genuína ciência que seus seguidores, tacanhos e orgulhosos que são em não admitir isso, as classificam como "humanas", e, por inveja, usam o termo "exatas" de maneira pejorativa, puro despeito. Finalizo o registro inicial : matemática, física, química e biologia são ciências humanas; as outras citadas é que, apesar de produtos humanos, não são ciência, nem de longe.
Para arrematar o que ele(a) pretendia ser uma ofensa, o(a) tal anônimo(a) compara-me ao Homem Bicentenário, disse-me um "robô com alma humana". De novo, não entendi. A ofensa pretendida era a mim ou ao robô? De novo, dependendo de quem lê, e como lê, há tanto elogios como críticas aos dois em tal pronunciamento. Esse anônimo(a) tem uma deficiência muito grande em se expressar e se fazer entender, quero dizer, é burrinho(a) mesmo, tadinho(a), QIzinho baixo.
A mim, pareceu-me elogio. Isso porque, anônimo(a), o que define um robô ou um humano não são, respectivamente, uma epiderme queratinizada ou membros e articulações de titânio ou duralumínio.
O que faz um robô é a sua uniformidade e conformidade para com seus semelhantes, é o seu mugido em uníssono com o rebanho, é a resistência em abrir a cabeça para, pelo menos, cogitar novas possibilidades, ser robô é apegar-se a uma única e absurda crença por toda a vida, é ter medo de romper o conforto burro do senso comum, é negar-se ao pensamento; cruzo com centenas de robôs pelas ruas, todos os dias, todos de sangue e osso, inclusive trabalho com vários.
O que define um humano são suas peculiaridades, suas particularidades em relação aos seus pares, o que faz de alguém um humano é ele ser diverso dos outros humanos que saíram da mesma linha de montagem que ele, ser humano é ousar enxergar mais que simplesmente o cu da rês à sua frente, é ter coragem de olhar acima da cabeça de seu igual ruminante e aguentar as consequências do que vir, ser humano é ser singular. Vejo muito poucos por aí, trabalho com um ou dois.
Dessa forma, Andrew Martin, o homem bicentenário, criação do genial escritor Isaac Asimov (homem das exatas), é um dos personagens mais humanos com quem já travei contato através de minhas fartas leituras.
Nascido robô, uma "falha" nas trilhas de seu cérebro positrônico permitiu-lhe habilidades e talentos inimagináveis em qualquer outro de sua linhagem. 
Não poderia essa falha em sua montagem, esse acaso feliz, ser comparado ao acaso da mutação biológica, que confere ao seu portador uma superioridade sobre os demais de sua espécie? Andrew Martin, defeituoso, não seria o louco e/ou o gênio dos robôs? Um Einstein, um Darwin, um Lavoisier, um da Vinci dos "enlatados"? Não é um defeito, um desvio do comportamento normal que gera os grandes gênios, os responsáveis por todos os avanços e por estabelecerem, inclusive, novos comportamentos? Sim, sim, sim e sim.
Está conseguindo entender o que é um verdadeiro robô e um verdadeiro humano, anônimo(a)?
Andrew Martin nasceu humano, uma vez que diverso, uma vez que não conforme aos seus.
Dai, sob meu ponto de vista, a inutilidade e o enorme desperdício de energia de sua jornada, ao longo de 200 anos, dedicada à obtenção do reconhecimento legal e jurídico de sua humanidade. Reconhecimento negado várias vezes, por humanos mais robotizados que o próprio Andrew Martin. 
Se quiser a história inteira, que leia o livro, ver o filme não vale, mas a uma certa altura de um de seus inúmeros julgamentos, Andrew Martin pergunta ao juiz o que define um humano ou um robô. O próprio juiz era pessoa de idade avançada, inalcançável nos dias atuais, e só atingida graças a uma série de próteses orgânicas artificiais desenvolvidas pelo próprio querelante. Quantos por cento de natural era o juiz? Quanto de humanidade ele ainda tinha? Qual era o limite ?, questionou Andrew Martin.
Eu teria ido mais longe, menos polido que sou que o bicentenário. Teria perguntado quem era mais robô, ele, Andrew Martin, artista plástico, que nunca repetira única obra, e anatomista sem igual, responsável pelos mais significativos avanços e inovações da ciência de sua época, ou o juiz, que passara toda sua longa vida repetindo e repisando leis estagnadas?
Entendeu o que é ser humano ou robô, anônimo(a)? Entendeu por que sua comparação de mim com o homem bicentenário, contrariando sua intenção, foi elogio que só me envaideceu? 
Aliás, essa foi a única razão em Andrew Martin gastar seus 200 anos de vida na busca do reconhecimento de sua humanidade pelos humanos : vaidade, o maior dos vícios humanos, só por demonstrar vaidade, Andrew Martin já deveria ter recebido logo de cara o diploma de humano.
Assim sendo, no sentido de ser diverso aos que me rodeiam, ser muito superior, ser muito mais inspirado e inspirador, sim, anônimo(a) : sou o Homem Bicentenário. Com uma ressalva : diferente de Andrew Martin, eu não preciso e nem faço nenhuma questão da aprovação dos humanos.
Continue me lendo e me elogiando, anônimo(a). Também sou vaidoso.

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1 Comentários

  1. Todo mundo que tem um blog é vaidoso. Eu gosto de ler seus textos e vou continuar lendo. Eu também sou humano e vaidoso. Fiquei envaidecido com uma postagem exclusiva à mim. Pretendo fazer observações mais sérias. Por enquanto estava só brincando.

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