Sucursal Do Inferno

Calor. Daqueles dias em que até o capeta liga o ar-condicionado no inferno. Trinta e sete graus Celsius, informa a Estação Experimental de Ribeirão Preto, responsável pela temperatura oficial do município, localizada fora da cidade, no campo, área arejada e ventilada. Quarenta e dois graus Celsius, desmentem os relógios/termômetros fincados nos canteiros da principais avenidas do centro, em meio ao asfalto, concreto, monóxido de carbono e aditivos de chumbo dos combustíveis. Cinquenta graus Celsius, no mínimo, gritam as solas de meus sapatos às solas de meus pés. E eu a seco, sem ter tomado nada ainda, umas duas ou três latinhas bem que ajudariam numa hora dessas.
Enquanto isso, papais noéis pululam pelas vitrines cheias de neve falsa em suas grossas roupas vermelhas, alheios ao calor e aos dezembros tropicais. Meninos-jesus nascem em cada loja de departamentos ou crediários; haja Herodes para dar conta de todos, haja jumentos para fugir com todos eles. O Natal que se foda. Cristo que se foda. Aliás, ele já se fodeu.
A única coisa boa é a biscataida desfilando seminua pelas ruas. Coxinhas e peitinhos em profusão. Um verdadeiro açougue vivo. O duro é a velharada - maldita medicina de ressuscitação - que se mete também a passear em trajes sumários, esquecida do estrago causado pelo tempo. Mal de Alzheimer é foda, a velharada esquece que tem 70 anos, pensa que ainda tem 15 e sai com as pelancas à mostra.
O que resta é chegar em casa o mais rápido possível, tomar uma chuveirada fria e uns bons dois litros de água gelada com bastante limão. Sem açúcar. Que é para judiar do fígado. São nesses momentos de calor sufocante e extrema desventura que chego a cogitar a existência de um filhodaputa de um deus, tal sacanagem só pode ser coisa de um deles, mas logo a ideia me passa. 
Só falta entrar a Simone cantando, "então é Natal, a festa cristã, do velho e do novo, lá, lá, lá, lá, lá..." Puta que o pariu! Não vejo a hora de chegar dia 2 de janeiro.

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