A Sua Forma Mais Perigosa

Claudica, a lagarta
- umas verdes, outras cor-de-burro-quando-foge,
outras pretas, outras peludas, outras urticantes -,
Massa de modelar articulada,
Molegata ao toque,
Vomífica às vistas.

Recosta, resfolegante,
À sombra de um jasmim-manga,
Para fumar ópio em seu narguilé, a lagarta.
Sem fôlego, exaurida de sua feiura.
Cochila,
Enreda-lhe a sua baba gosmenta tecida em fios de seda.
Cansada, dorme casulo.

Espreguiça e decola, cheia de cafeína, a borboleta
- umas amarelas, outras rosas e laranjas,
outras felpudas, outras acetinadas, raras azuis -,
Folha de celofane articulada,
Ágil a lamber as bucetas das margaridas, das campânulas e das prímulas,
Sequiosa a chupar as picas dos lírios e dos antúrios.

Exulta e esvoaça, a borboleta
- a lagarta com novo RG -,
Purpurínea ao toque,
Travesti belo às vistas :
A sua forma mais perigosa.