Videobiografias

Gosto de produzir-me, cansaço.
Andar por quilômetros aprazíveis,
Só andar, só as pernas a funcionarem.

Gosto de produzir-me, pensamento.
Estático, olhos vidrados,
Reescrevendo-me em língua morta
Ao invés da inútil tarefa de traduzir-me.

Gosto de produzir-me, clima frio.
Nem tanto pelo frio,
Por poder vestir o velho moletom
Em que minhas gatas gostam tanto de se enrodilhar,
E pelo vinho:
Vinho-bebida, hormônio que deveríamos produzir naturalmente;
Vinho-cor, a pigmentar meus dentes
Num sorriso de desprezo bordô pela estética do belo
E mais até por mim mesmo
Que um dia a pretendi.

E gosto,
Sobretudo e cada vez mais,
De assistir a videobiografias
Dos meus ídolos mortos ou caídos.

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