De Novo, O ENEM

O ENEM deu merda, de novo. Os alunos do colégio Christus, no Ceará, tiveram um acesso antecipado a algumas questões do ENEM, o número varia de oito a  catorze, segundo as reportagens que li.
Normal. Em sendo Brasil, perfeitamente normal. Aqui é o país do jeitinho, do levar vantagem em tudo. Apenas seiscentos e poucos candidatos, em meio a milhões, terem participado, direta ou indiretamente, de uma fraude, é muito pouco. Em se tratando de Brasil, é um número desprezível, insignificante.
O fato é que algumas questões cobradas no ENEM haviam sido "antecipadas" nas apostilas do tal colégio Christus. E agora que a casa caiu, começa a choradeira e a batata quente é jogada de mão em mão. O diretor do colégio nega, claro. Alega que as questões fizeram parte de um tal pré-teste do ENEM, que avalia o grau de dificuldade das questões para que, posteriormente, elas sejam incluídas, ou não, no banco de dados do exame nacional. E deu um monte de justificativas pedagógicas para as "coincidências".
Isso eu não sabia. Quer dizer que há um pré-teste do ENEM? As questões são aplicadas antecipadamente e verificados os níveis de acerto de cada uma. Se for muito difícil, ela é substituida? Há uma espécie de peneira para que o ENEM seja fácil e não mostre claramente o nível dos alunos brasileiros. E parece que foi de algumas dessas questões que o colégio Christus fez uso. Se foi, não vejo nada de mais. 
Fica parecendo aquele professor que tem vinte salas de aula, dá a mesma prova em todas e fica bravo quando descobre que alunos passaram as questões para os que fariam a prova depois deles. Querem fazer o tal do pré-teste, querem testar o grau de dificuldade das questões (ou de facilidade)? Que façam, brasileiro gosta mesmo de ser tratado feito coitadinho e débil mental, mas que, ao menos, mudem alguns dados da questão, deem uma leve maquiadinha. Mas não. Por pura preguiça, usam exatamente a mesma questão.
Repito : se o caso for mesmo esse, não vejo qualquer tipo de culpa ou dolo; as questões já existiam e haviam sido divulgadas antes da prova oficial do ENEM.
O ministro Haddad confirma a fraude e o MEC garante que todos os cadernos do pré-teste foram devolvidos, mas não descarta a possibilidade de seus conteúdos terem sido copiados eletronicamente. É o seguinte, foi prum banco de dados informatizado, fudeu; qualquer um com um pouquinho de conhecimento entra nesses bancos, ilusão achar o contrário. O erro é fazer um pré-teste e não modificar as questões. O erro é haver um pré-teste. Questões que poderão render vagas em faculdades públicas têm que ser difícil, o erro é ficar dando ouvidos a essa porra pedagógica.
Meu primeiro vestibular, FUVEST 1984, e todos eram assim na época, tinha a seguinte "linha pedagógica" : taí, vagabundo, são 96 questões fudidas pra você resolver em quatro horas. Passou, passou; não passou, volta no ano que vem. E ponto. Pelo menos, entrávamos nas faculdade sabendo ler.
Mas voltando ao colégio Christus, que, não resistindo ao infame trocadilho que vem me tentando desde o início dessa postagem, querem pegar pra cristo, aluno é tudo filho da puta. Professor acha que tem que ser amigo do aluno e o aluno, na primeira oportunidade, fode com o sujeito. Merecidamente. Professor tem que ser professor, amigo, porra nenhuma. Alguns alunos já entregaram um bodão para as autoridades. Segundo eles, um tal Jahilton, professor de Física, foi quem distribuiu as questões; a alunada dedurou o Jahilton nas redes sociais. Claro que o professor não fez isso sozinho, se é que fez, fez com apoio, ou, no mínimo, conivência de seus superiores. Mas é óbvio que vai sobrar pro cara. Quando algo relacionado à Educação dá chabu, o culpado é sempre o professor. O professor é o mordomo da Educação.
As provas dos alunos do Colégio Christus foram anuladas e eles as refarão em fins de novembro. Só que o Ministério Público Federal do Ceará está pedindo a anulação total ou parcial das provas do ENEM do país inteiro. Sua justificativa jurídica é, e nem poderia ser outra, a velha teoria do coitadinho, do discriminado. O Ceará alega que esse é um problema nacional que está sendo tratado regionalmente. "Há uma discriminação odiosa contra os alunos [do Christus]. Os estudantes não têm nada com isso e estão sendo tratados como cúmplices", afirmou o procurador.
Os alunos têm muito a ver com isso, sim. Estudantes são cúmplices, sim. Eles receberam as provas e foram orientados a não espalhar para outros, de outros colégios, e assim o fizeram. Até estourar a merda. Agora eles são vítimas, e tem muito pai safado por aí reclamando que seus filhos estão sofrendo bullying pelas redes sociais. Tadinhos. Tentaram dar uma de espertos e agora não aguentam o tranco?
Aliás, não tentaram, deram mesmo uma de espertos. Burros foram os que não incluíram  em suas apostilas as questões já divulgadas pelo MEC. As questões já eram públicas, qual foi o crime do colégio Christus?
Volto a dizer : essas questões não estavam guardadas dentro de um cofre de adamantium num subsolo da área 51 e vigiadas pelo Bruce Willis, pelo Rambo e pelo Jack Bauer; elas estavam em bancos eletrônicos facilmente violáveis. A grande cagada aqui, de novo, foi do governo do PT, que agora tenta justificar sua logística nula.
Mas eu concordo com a anulação do ENEM em todo o país. Não só desse, de 2011. Sou pela extinção definitiva do ENEM.
Que voltem os grandes vestibulares. Não me canso de repetir Paulo Francis, "Universidade é para formar elites, e não dar diplomas a pés-rapados".

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1 Comentários

  1. Esse repúdio à cola deveria pegar, alguns alunos acreditam até hoje que terão sucesso se não tiver competência.
    Não acredito que esse Enem avalia competência de alguém, visto que o próprio ministro da educação é uma toupeira.
    A corda só quebra do lado mais fraco, culpar o Nordeste pela incompetência de Haddad! É o fim da picada.
    Cole a vontade caros alunos, mas, em algum momento de sua vida terá de mostrar competência, aí sim, separaremos o joio do trigo.

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