O Velho Que Roubava Plantas

Quem de nós, os que gostamos de ter nossos pequenos vasos pela casa, os que gostamos de pintar de clorofila um espaço vazio na estante, no parapeito da sacada, no beiral de uma janela, num canto do teto, já não nos apropriamos de mudas de plantas diversas em praças, em parques públicos, em canteiros externos de residências, em gretas de meios-fios, de ramos debruçados por sobre os muros?
Quem de nós já não adotou e levou para casa essas menores abandonadas à sorte de uma chuva que lhes dê de beber?

Pois ontem, ao cortar caminho por uma das malcuidadas praças da cidade, uma placa fincada no jardim, chamou-me a atenção. Nela estava escrito que é proibido, sob pena de multa e detenção, pegar plantas nas praças, mesmo mudinhas. A placa trazia até o artigo previsto em lei : artigo 49 da Lei 9605/1998 (Lei de Crimes Ambientais).

Fui conferir e é verdade. A apropriação de plantas de espaços públicos ou privado, sem prévio consentimento ou autorização, pode dar xilindró a quem surrupiar um galhinho de manjericão aqui, um de roseira acolá.

O artigo diz : "destruir, danificar, lesar ou maltratar, por qualquer modo ou meio, plantas de ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade alheia” pode render detenção de três meses a um ano e/ou multa".

Ou seja, é mais fácil você, cidadão comum, ficar preso por pegar uma muda de samambaia que o Lula, por roubar um triplex, um sítio, e uma caralhada infinita de petrodólares.
Valha-me São Charles de Gaulle!!! Isso nunca será um país sério.

Achei até uma extensa matéria no portal UOL sobre mais esse gravíssimo problema social. Questão social, claro, agravada pelo capitalismo selvagem dos hortos e das floriculturas, que, ao praticarem preços abusivos e opressores, visando lucros exorbitantes e patronais, não deixam, aos que não podem pagar por elas, outra opção que não o caminho do crime.

Agora, tentando, se é que é possível, falar minimamente sério sobre esse assunto, declaro que sempre fui contra o comércio de seres vivos, sejam eles animais ou plantas. 

Por acaso, é o "criador" que vai lá e acasala com a cadela, por exemplo? Ou a "criadora" que dá pro Rottweiler e gera e pare a cria? Pois então, por que molhar a mão do criador com milhares de reais por um cachorro se ele não teve trabalho algum? Se foi o cão e a cadela que suaram para procriar? E, para efeito de companhia, qual a diferença entre um cão com pedigree que remonta aos tempos do império e um vira-latinha? Ops, vira-latas, não; SRD, Sem Raça Definida, que é o termo politicamente correto para cães e gatos sem nobres genealogias.

O mesmo vale para as plantas. Mais ainda para as plantas. Para essas, o "criador" não precisa nem dar ração. É só jogar uma água, deixar no sol e ela se autoalimenta, é um ser autótrofo.

Por que pagar a esses cafetões da fauna e da flora? Por que pagar a esses "atravessadores" da Natureza? Sempre fui pela adoção. Tanto de bichos quanto de plantas.

Até há uns 15 anos, eu não tinha nenhum vaso em casa. Ganhei uma suculenta da minha sogra, que está viva até hoje - a suculenta e a sogra -, e fui tomando gosto. Hoje, devo ter cerca de umas três ou quatro dezenas de vasos. Devido ao fato de o espaço disponível para eles na casa ser na sacada, até que de um bom tamanho, mas ser face sol à tarde, não há muita variedade de famílias botânicas.

Para aguentar os rigores do sol, a maioria é de cactos e suculentas. De folhagens, tenho algumas dessas mais espessas e rústicas : espadas-de-são-jorge, zamioculca, e filodendros e singônios, essas folhas em forma de cara de cavalo.


Samambaias, consegui emplacar duas espécies apenas, colocadas num canto da sacada onde o sol pega de viés. As belas e nobres, porém, já vulgarizadas, orquídeas, nunca foram pra frente aqui em casa.


De todas essas que aparecem nas fotos, uns 90% foram ou pegas nas ruas, ou ganhas de presente, ou trazidas da casa da sogra. Uns quatro ou cinco vasos apenas foram comprados. E por minha esposa.

Além de não fazer mal a ninguém, a adoção de plantas baldias contribui para a propagação de pequenas selvas urbanas, espalha o verde. Não vejo o menor problema.

Contudo, dura lex, sed lex. Ciente agora do risco que sempre corri, sabendo agora que sou um criminoso recorrente, um serial chlorophyll, precaverei-me mais, atuarei com mais cuidado.

Porque imaginem só eu sendo preso por roubar uma mudinha numa praça etc e sendo jogado na mesma cela que o Ditão Pé-de-Mesa. Assim que eu chegar, ele vai perguntar : - e aí, sangue bom, te enquadraram por quê? E eu, todo perigoso e fazendo cara de mau, dizendo : - porque roubei um raminho de azaleia.

Pããããta que o pariu!!!
O Ditão vai é plantar a flor-do-Jorge-Tadeu em mim!!!

Fonte : Portal UOL

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