As Cores Da Vida

O ar,
Aparentando alienígena de tão aprazível. 
O odor amadeirado e a brisa na velocidade certa 
Simulando a consistência da paina. 
A atmosfera exercendo uma pressão rosa 
E você – 
O céu,
Isento de varizes e hematomas de cirros e cúmulus 
Tão intenso e balsâmico que torna a alegria das crianças suportável 
Um céu de olho de gato siamês, 
Do torpor do licor de anis tomado em cálice de lótus, 
De um azul quase assassino.
E você – 
O ipê,
De pés descalços na terra roxa vermelha de ferro 
E sua crina de um amarelo imprevisível 
Formidavelmente impossível de ser retratado 
Em óleo, acrílico, aquarela ou Polaroid : 
Apenas pela memória.
E você – 
E você que foi cremada de mim semana passada 
E que por meu sopro 
Se espalha ao mesmo tempo em que se junta a tudo isso. 
Mas tão destoada do cenário, 
Tão cinza, cinza... 
Qual a cinza do meu cigarro depois de extinta, 
Cinza do primeiro cigarro de minha vida 
Consumido na espera aflita 
Da madrugada ocre-insônia em que você foi impedida de voltar pra casa.

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