Loiras Geladas, Vêm Me Consolar

Paulo Ricardo sempre foi o rostinho bonito (pra caralho), a voz rouca e sexy e os ombros desnudos (que levaram Caetano Veloso à loucura nos meados da década de 1980) da banda RPM. Mas a alma melódica e harmônica do conjunto, a essência, a bússola, o sextante e o astrolábio que possibilitaram que o RPM viajasse por mares nunca dantes navegados por uma banda de rock nacional, que o RPM fosse, audaciosamente, onde nenhum outro grupo jamais esteve foi o tecladista Luiz Schiavon.
À semelhança de Jim Morrison, no The Doors, Paulo Ricardo é quem acendia o fogo na prexeca das fãs do RPM, mas era Schiavon, feito Ray Manzarek, quem montava todos os pavios, os estopins, toda a parafernália pirotécnica. Paulo Ricardo era o detonador; Schiavon, o engenheiro por trás de tudo.
No RPM, os teclados de influência do rock progressivo de Schiavon não eram mero adereço, um mero complemento, um penduricalho, como é muito comum em bandas de rock. Eles eram o fundamento da música do grupo, eles que pegavam o baixo de Paulo Ricardo, a guitarra de Fernando Deluqui e a bateria de P.A. pelas mãos e os conduziam pelo caminho do sucesso.
Paulo Ricardo sempre foi o Capitão Kirk do RPM, mas Luiz Schiavon era o Sr. Spock, ao comando do painel de controle da nave Enterprise, que foi o RPM para o rock nacional. Sobretudo, para os que eram jovens nessa época e foram arrebatados por sua sonoridade, feito eu, esse velho que hoje vos fala.
Luiz Schiavon morreu ontem (só fiquei sabendo agora), aos 64 anos, depois de lutar por quatro anos contra uma doença autoimune. Que é um tilt que dá no corpo. Que é quando nosso próprio sistema imunológico começa a identificar as nossas células como corpos estranhos, como invasores a serem eliminados. É quando o nosso próprio organismo nos rejeita.
É foda. Que fossa, meu chapa, que fossa.
Obrigado por Loiras Geladas, Schiavon. Obrigado por Revoluções por Minuto, por Olhar 43, por A Cruz e a Espada, por Sob a Luz do Sol, por Juvenília.


Luiz Schiavon
1958 - 2023

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17 Comentários

  1. Eu tenho cd do RPM, eu só conheci o RPM recentemente e eu nem estava interessado em ouvir o CD por eles, era porque o CD dizia que tinha o Light My Fire do The Doors que foi adicionada acidentalmente mas quando ouvi não tocou o the doors, é que diferentemente do Sr. Azarão, eu amo músicas em língua inglesa muito mais que as nacionais

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    1. O Paulo Ricardo canta numa das faixas - esqueci qual delas; nada que uma pesquisadinha no google nao resolva - um trecho do refrao de " light my fire". Creio que para evitar maiores problemas com os detentores dos direitos do Doors e chamar a atenção, foram devidamente creditados . Mas nao foi a LMF toda, apenas um trecho da letra que é "citado".

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    2. Eu acho que deve ser essa mesmo, ficou meio que uma música incidental. Gosto da voz do Paulo Ricardo.
      E as coisas, meu caro, como vão?

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    3. Infelizmente, nada muito promissoras, meu nobre. Todo dia é um novo leao a ser morto à unha. E as forças se acabando.

      Cássio - Recife/PE.

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    4. Eu tb não estou nos meus melhores dias. Já tô na base de remédios, sendo tarja preta um deles, e não venho sentindo diferença nenhuma, não.
      Fiquei 40 dias afastado de sala de aula, volto na terça-feira e só de pensar na escola, mal durmo, me dá uma aflição, um certo pânico.
      A única cura possível pra isso não está ao meu alcance, que seria mudar de profissão.
      Mas vamos levando, fazer o quê, né?
      Grande abraço.

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  2. Sr. Azarão, sem querer incomodar, assistiu os vídeos que eu te mandei, a entrevista do Régis Tadeu e os dois curtas?

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    1. Se o senhor quiser falar sobre o que o régis tadeu falou em uma postagem e dos filminhos e falar o que achou das minhas recomendações só para encher seu catálogo eu ficaria muito agradecido

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  3. Realmente, música de qualidade de um passado que parece idílico, cada vez mais distante, que hoje até parece mesmo saído de um livro.

    Quem não queria ser o Paulo Ricardo na década de 1980? Eu tinha interesse especial nisso, especificamente na parte de comer a Luciana Vendramini. Já ouvi dizer que ele cortava para os dois lados e deixou essa beldade escapar. Verdade ou não, essa é outra história.

    "RPM", grande Schiavon.

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    1. Pelo que me consta, ele comeu e muito a delícia Vendramini, acho que ficaram casados por quase uns 10 anos. Se ele corta pros dois lados, eu nunca ouvi nenhum rumor, mas se sim, significa que o cara se divertiu em dobro.
      Abraço.

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  4. Seu post me inspirou a escrever novamente no blogue!

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    1. Rapaz, muito me alegra saber que voltará a escrever no blogue. Mas porque justamente essa postagem lhe inspirou um retorno?

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    2. Especialmente pelo "louras geladas" e lembrei logo da Luciana. E tb porque meu irmão ouvia bastante aquele disco Rádio Pirata Ao Vivo e eu, bem mais jovem, já gostava bastante.

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  5. O RPM foi um fenômemo mesmo e há músicas excelentes. Para ser sincero, instrumentistas mesmo eu considerava o Schiavon e o Deluqui, os outros dois eu achava apenas complementares. É óbio que o Paulo Ricardo talvez tenha sido o cartão de visita da banda, mas achava sua voz "sexy" meio forçada. Para mim o maior mérito dele tenham sido as letras que escreveu. Você listou músicas excelentes da banda, mas acho um porre a versão de London London. E é lamentável que um cara como o Schiavon tenha participado durante um tempo como músico da banda de apoio do programado Faustão. Enfim, gosto muito do primeiro disco do RPM, mas curto mais o Hanoi Hanoi.

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    1. E o Arnaldo Brandão continua produzindo bastante, até melhor que no Hanói.

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