A Santíssima Tetralidade

Há tempos que escuto a Igreja Católica e seus representantes, os gigolôs de Cristo, lamuriando-se pela fuga de seus fiéis - e respectivos dízimos, óbvio - rumo a outras igrejas cristãs, queixando-se de um contingente cada vez mais crescente de ovelhas - e correspondentes velocinos de ouro que faziam luzir os cofres santos - se desgarrando em direção, sobretudo, às inúmeras denominações neopentecostais.
Pudera. Não é de hoje a obsolescência da Igreja Católica. Não adianta nada - nem atrai novos otários - ficar queixando-se a Deus de que os valores morais, de que os valores familiares etc mudaram e que é preciso resgatá-los. Os valores não mudaram. Foram extintos. Não há o que se resgatar. Hoje, ou se adere à total esculhambação, ou se pede pra sair. Ou se fecha a lojinha.
Pudera, os bancos cada vez mais às moscas das igrejas católicas. Os preceitos, os cânones, ou sei lá o nome dado ao regimento ou estatuto que rege toda aquela putaria no Vaticano datam ainda da Idade Média.
Incompatíveis. Imiscíveis com os tristes e atuais tempos. Só a um exemplo : os indissolúveis - a não ser pela Indesejada das Gentes - laços do matrimônio. "Até que a morte os separe". Ora, porra, numa época em que a expectativa de vida, dificilmente, excedia os 30, 30 e poucos anos, era fácil cumprir o jurado frente ao padre. O cara ficava casado meia dúzia, dez anos. Vá, feito hoje em dia, viver até os 80 e veja se há cristão que aguente. Mas este prosaico exemplo está longe de ser o maior pecado atual da Igreja Católica. Muito longe.
O que está a dessangrar as hostes católicas é o fato dela não ter evoluído, ou, ao menos, não ter migrado no sentido de se tornar, como dizem hoje as gazelinhas politicamente corretas de plantão, uma igreja inclusiva, com representatividade. Os egos, hoje em dia, são dos mais frágeis e mimizentos, todos querem se sentir representados, todos querem ser incluídos - tô fora dessa "inclusão".
Em seus primórdios, a Igreja Católica foi fundada e era frequentada por nobres abastados e brancos. Nada mais é assim. E as mulheres? A Igreja Católica ignora, ou tem ciência disso, mas não dá importância, o quão machistas são seus fundamentos, é o seu livro sagrado, vistos pela óptica atual.
A começar pelo seu tripé da Fé, a Santíssima Trindade. O Pai, o Filho e o Espírito Santo. Só homens. Tudo macho. Primeiro que fica parecendo um ménage gay, um trenzinho da alegria, de rapazes alegres. Depois, cadê a mulher nessa história? Cadê o empoderamento feminino?
Por que não acrescentar, ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, também a Mãe? Também Maria? Que foi estuprada pelo Espírito Santo a mando do Pai para que o Filho pudesse nascer? E que, fosse hoje, bem poderia ter abortado o fruto lhe plantado sem o seu consentimento, o que, convenhamos, teria-nos sido uma benção, um mundo sem o Cristianismo.
Por que não abraçar a causa feminista e atrair umas suvacudas e umas muxibentas? Por que não ampliar, tornar mais plural a Santíssima Trindade e incluir a Mãe, Maria?
Pois foi com vistas a arrebanhar as empoderadas deste Brasil dantes mais varonil que a Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ) deu o merecido lugar à Mãe na outrora tríade machista e opressora. Estabeleceu a Santíssima Tetralidade : o Pai, o Filho, o Espírito Santo e a Maria. A Maria Joana. A Marijuana.
Na semana passada, a Polícia Federal paraense grampeou um avião monomotor carregado com 290 kg de skunk, um tipo de supermaconha, prestes a bater asas, a um triz de, literalmente, seguir "viagem", do aeroporto internacional de Belém (PA). O avião está em nome da Igreja Quadrangular e é utilizado pelo pastor e ex-deputado federal Josué Bengtson, tio da ex-ministra e atual senadora da república Damares Alves.
O suspeito preso caminhava pelo pátio em direção ao teco-teco e, ao ver a PF, tentou fugir, mas foi alcançado e detido. O piloto foi liberado, pois não foi verificada qualquer tipo de participação dele no tráfico.
“A droga ocupava todo o espaço que sobrava na aeronave, além dos assentos para um passageiro e o piloto”, explica a nota da PF.
Um inquérito foi aberto para apurar o crime, e o avião e o celular do homem detido, apreendidos.
Em comunicado oficial, a Igreja do Evangelho Quadrangular disse que nada sabia sobre a carga profana (e talvez não saiba mesmo) e que se coloca ao inteiro dispor das autoridades para ajudar nas averiguações.
Bom, se o tráfico da erva do diabo era prática corriqueira da igreja ou se é um caso isolado de um fiel que traiu a confiança de seus empregadores para tirar um por fora, só as averiguações da PF irão, futuramente, nos dizer.
Caso a culpa recaia sobre a instituição, sobre a IEQ, não será difícil escapar sem grandes danos ou consequências. No Brasil, tendo grana, um advogadozinho de meia-pataca e certa influência política, ninguém vai preso. Dinheiro e influência política é o que não falta a essas igrejas. E nem pessoas dispostas a defendê-la, ou mesmo ao homem detido, caso ele seja pego para Cristo.
Apesar de otários a ponto de darem 10% de seus ganhos na mão de um pastor, essas igrejas não laçam apenas ignorantes semianalfabetos. Muitos letrados, muitos "doutores" as frequentam. Não faltará um irmão bacharel para o serviço.
E, no fim, seja de quem for a culpa, tudo acabará mesmo em pizza. Ou, no caso, em missa. Em comunhão, em congraçamento entre as partes.
E deixo aqui algumas dicas para a defesa.
Fazendo, literalmente, o papel de advogado do capeta - do cigarrinho do capeta -, eu, em defesa de meu cliente, alegaria, feito o fazem o Santo Daime e outras seitas, que a erva se destina a fins rituais, a estabelecer uma melhor conexão com o divino, a melhorar o wi-fi com o Céu.
No Brasil, algumas substâncias proibidas para fins recreativos são liberadas para uso ritual e religioso, para o exercício da fé. Se for para diversão, nem pensar. Se, no entanto, for para prestar submissão e subserviência a alguma autoridade maior, se for para ter agonias físicas e psíquicas e alucinações perturbadoras, que mostrem o merda que você é frente ao Cosmos, está liberado. Alegaria uso ritual, e pronto.
Caso o tribunal não fique de todo convencido, alegaria também que, além da já citada inclusão da mulher, meu cliente, igualmente, estaria a promover a representatividade de outro dos mais reclamões e cheios de quereres segmentos da sociedade, os índios. Ops, os povos originários. Que índio é termo cunhado pelo colonizador branco e opressor. E inúmeras são as tribos originárias no estado do Pará.
É notória a grande penetração das igrejas evangélicas nas aldeias e reservas indígenas nas últimas décadas. A concorrência pelo dízimo-funai é grande. Como em qualquer ramo, quem não tem competência, não se estabelece; ou, como dizia Abelardo Barbosa, menino levado da breca, quem não se comunica, se trumbica.
Ao incluir a Marijuana nos cultos, meu cliente estaria a dar representatividade aos povos originários. Ao juntar a maconha com o sinal da cruz, estaria a proporcionar um ambiente mais acolhedor aos silvícolas, um local de reconhecimento. Também estaria a levar em conta e a preservar elementos da cultura nativa, evitando, assim, a sua erradicação e a perda de diversidade cultural do país.
Após o padre entornar o vinho transubstanciado no sangue de Cristo, o sacristão e o coroinha iriam passando o cachimbão da paz entre os fiéis.
Pãããããta que o pariu!!!! Isso sim que é sincretismo!!!
Valha-me Santa Fitinha do Senhor do Bonfim.
"Apaga a fumaça do revólver, da pistola/Manda a fumaça do cachimbo pra cachola..."
E ainda faz campanha contra Bolsonaro!!! Até o STF vai dar absolvição!!!

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5 Comentários

  1. Azarão, eu vi duas notícias da band que falava os perigos do celular e outra que você queria que todo o Brasil adotasse isso: Mostraram uma escola no Brasil que PROÍBE O USO DE CELULARES ENTRE AS CRIANÇAS é isso mesmo, estimula elas a brincarem de jogos normais como corrida de saco, puxa corda e desenhar e pintar, não escutei qual estado era mas se você quiser pesquisar na Band essa reportagem e comentar ela com seus colegas professores

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    1. Comentar com meus "colegas" professores? Muitos deles são os que mais usam essas merdas em sala de aula. Sem contar que, aqui no estado de São Paulo, desde 2021, aquele diário de classe de papel foi extinto. Chamadas, lançamentos de notas etc são feitos numa plataforma eletrônica do estado, o que obrigou, inclusive, a mim ter uma desgraça dessa pra poder trabalhar. Algumas escolas, por iniciativa heroica de seus diretores, proíbem essas estrovengas em sala de aula, mas são raríssimas. Aqui na cidade, eu tenho conhecimento apenas de uma. Digo das públicas. Porque nas particulares, os números de escola que proíbem é maior.

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  2. Também mostraram que varios países estão restrigindo o uso dessas traquitanas

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    1. Restringindo, não. Vetando mesmo. E já faz tempo. A França, por exemplo.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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