Os Abnegados

Ah! A ab-negação do celibatário priápico;
Da mãe que resiste em não descer ao sepulcro com seu filho natimorto.
Ah! A ab-negação do Don Juan,
Que deixa de sua máscara,
De sua Veneza
E vai viver como funcionário público em Salt Lake City;
Do vampiro,
Que usa aparelho de correção ortodôntica,
Não para corrigir sua mordida,
Mas para encabrestrar o seu desejo por sangue;
Do Hermes,
Que pendura suas chuteiras aladas
(A da esquerda com asas de condor,
A da direita, de colibri)
E caminha,
Descalço e pedinte,
Pelo asfalto candente.
Ah! A ab-negação do alcoólatra em reabilitação,
Que, em público,
Que, em festas da família,
Só toma cerveja sem álcool
Mas que, de madrugada,
No banheiro,
Com a desculpa de que ainda não cagou hoje,
Se senta e entorna um latão das boas.
Feito um adolescente que toca punheta escondido,
Da mãe
E de Deus.

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6 Comentários

  1. Interessante, andei pensando em um texto pro dia das mães bem parecido, mas parece você chegou primeiro. Ainda não sei se vou postá-lo porque é meio hard. Gostei do trocadilho com o prefixo, muito inteligente.
    "J"

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    1. Publique-o, sim.
      O muito inteligente não é novidade, mas o tal trocadilho me veio meio que do nada.
      Era madrugada, eu tava numa festa de casamento, tinha entornado sei lá quantas doses de vodka e tava com esse poema na cabeça mas sem nenhuma caneta; então, eu o fiquei repetindo mentalmente a noite toda, e de tanto repetir, fui fragmentando, dissecando...

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    2. Mas eu, einh. Sabe a piada do Joãozinho quando foi à venda comprar 1kg de feijão, pois então se fosse eu ia chegar com dois quilos de farofa. Imagina ainda tomando umas, isso é só para os fortes, eu ainda sou pintinha rsrs.
      "J"

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  2. Entornado sabe lá quantas doses de vodca. Ficou com a argola piscando, aposto.

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    1. Fiquei foi com a cabeça do pau latejando, isso sim, pra meter na argola da sua mãe.

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  3. você criou fantásticas imagens neste poema. A do Don Juan e do vampiro são geniais. Eu só não entendo uma coisa em você. Você parece ter uma compulsão de escandalizar, de chutar o pau da barraca. É como se estivesse em alguma festa, todo bem vestido. Aí, no finalzinho, dá aquela vomitada na própria roupa. Bom, o poema é seu e eu sou uma besta de explicitar minha visão, pois não sou crítico literário nem de revistinha da Mônica.

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