Ereção matinal (parece nome de corn flakes) é uma resposta fisiológica e involuntária do organismo do macho que produz uma inquebrantável e irremovível paudurescência, e é também conhecida como tesão do mijo.
E antes que pensem que tesão do mijo é aquela tara do cara que se excita quando mijam sobre ele, na prática conhecida por "chuva dourada", já adianto que não é o caso, que não é nada disso.
O tesão do mijo é causado concomitantemente por uma diminuição, durante o sono, da produção do neurotransmissor noraepinefrina - que causa a vasoconstrição dos vasos sanguíneos do pênis durante o dia, evitando que o pau fique em riste em momentos inapropriados - e pela pressão exercida pela bexiga cheia em uma região da medula espinal responsável pelo estímulo sexual. Ou seja, pau relaxado e um cutucão no lugar certo, não dá outra : paudurescência na certa.
O tesão do mijo nos livra amiúde do vexame de nos mijarmos durante o sono, é um mecanismo de defesa que impede que nós homens nos molhemos - e à cama e aos lençóis e à nossa companhia de leito - quando
nosso merecido repouso se faz mais profundo, ou quando a preguiça de ir
ao banheiro na madrugada se faz imperativa.
Não sei que eclusas, barragens, diques ou comportas o pau duro fecha, mas sei - e os homens que me leem, também - que é virtualmente impossível expelir única gota de urina frente a uma poderosa e latejante ereção. Ereção, esta, que nada tem a ver com a libido, com a testosterona e muito menos com a virilidade do sujeito.
Pelo contrário, o tesão do mijo é o nosso lado feminino, a nossa vertente mais poética, fingidora por natureza. O tesão do mijo proporciona, vez em quando, a chance de nos apossarmos da máxima prerrogativa da mulher na cama : a do fingimento, a de gozar da nossa cara e não na nossa cara, como seria de bons tom e alvitre. "Você diz a verdade e a verdade é o seu dom de iludir... como pode querer que a mulher vá viver sem mentir".
Quantas vezes, meu amigo, você já não acordou com o tesão do mijo e, suportando estoicamente o desconforto da bexiga cheia, aproveitou para fazer uma graça à pessoa ao seu lado? Para demonstrar o quão grande era o seu amor por ela? Quantas vezes a catalisadora flecha cupídica de seu matutino ato de afeto não foi o tesão do mijo?
Aí, pela falta do quê, pus-me a pensar no quanto de nossas outras atividades cotidianas não são também impelidas a tesão do mijo, a simulacro.
Acordo cedo e fácil, às 5 da matina, sem o menor vestígio de sono. Mas não pelo prazer de um novo dia de realizações ou pela sensação do dever cumprido ao seu fim - que balela genial, essa inventada pelos patrões e pelos donos do poder, a do dever cumprido -, tampouco pelo bater no peito de matar meu leão diário - até porque gosto muito do bichinho. Acordo fácil porque meu sono - leve, falho e interrompido -, igualmente à vigília, não me é prazeroso. Se à maioria pareço atento e bem disposto é porque o sono também não me apetece. Puro tesão do mijo.
E o exercício de meu ofício, então? Como se manter comprometido, competente e interessado por um trabalho que não é mais do interesse de ninguém? Todo ímpeto, dedicação e competência que eu possa ainda, nos momentos de descuido, demonstrar são puros atos reflexos, é a perna que bem chuta sob a pancada certeira do martelo do médico no joelho. Tesão do mijo.
Já gostei muito de cozinhar; hoje... como. Tento manter mais ou menos a combinação básica de uma refeição, um carboidrato, uma proteína, fibras, vitaminas e minerais. É isso o que como hoje em dia : a classe nutricional de cada alimento, suas funções bioquímicas, suas moléculas. Como, a exemplos, o amido, não saboreio o arroz, a batata ou a mandioca; como a proteína, tanto faz se vestida de suculento bife, cozido ovo, espinhento peixe ou grelhado peito de frango; ingiro íons e vitaminas, nem me lembro, instantes depois, se foram na forma de folhas, caules, raízes ou sucos. Tesão do mijo.
Livros : ainda, vez ou outra, os tomo de empréstimo na biblioteca municipal; vez ou outra, chego mesmo a lê-los até o final, porém, pergunte-me sobre algum deles na semana seguinte...
Filmes : até curtas-metragens têm me parecido longos e exaustivos.
Música : coloco música durante o tempo todo em que estou sozinho em casa, ou quando tenho que desempenhar enfadonha função doméstica, faxina etc; nas noites em que termino meu dia a beber uma cerveja na sacada, tenho sempre o meu pequeno toca-CD ao lado; às vezes, levo o radinho até para o banho. Mas nem o Raul me anima e inspira mais; nem o Chico mais me arrepia. Tesão do mijo.
Escrever meus rabiscos no meu inseparável caderninho : tesão do mijo; digitá-los e postá-los no blog : cada vez mais tesão do mijo.
9 Comentários
Pra variar mais um texto excelente, ainda gosto muito das aulas de biologia. rsrsrs
ResponderExcluir"J"
Dizem que as mulheres de Belém são particularmente dadas e ótimas esportistas. Um conhecido disse que um dia, viajando para lá a trabalho, terminou a noite com uma em sua cama. E haja entusiasmo. No dia seguinte, ao acordar, estava explodindo de vontade de mijar. Paudurescente, tentou levantar-se, mas a atleta, agarrando a flauta, o impediu, dizendo: “é assim que eu gosto”! Só depois da obrigação é que foi libertado para correr (juntando os joelhos) para o banheiro. Texto muito legal.
ResponderExcluirRapaz, bela dica de turismo você deu para os leitores do Marreta : nas próximas férias, destino Belém.
Excluirobrigado pelo comentário.
Quem tem tanto tesao do mijo é porque não tem vida sexual ativa. Marreta, compra uma boneca inflável para você. Rsrsrs.
ResponderExcluiràs vezes, é melhor não ter uma vida sexual ativa do que ter uma vida sexual passiva. concorda?
ExcluirSó se for no seu caso, caro marreta.
Excluirsei não... só de você ficar aqui, no blog, lendo e relendo minhas postagens, já é forte indício de que você não deve ter uma boa buça à disposição, ou estaria lá, dando uma fincada de respeito.
Excluirbacana esse texto, mas o que chama a atenção é o puta trabalho de você escrever tudo a mão e depois passar para o computador. Como escrevo direto no computador, minhas ferramentas prediletas são o Control X e Control V. No papel, só se rabiscar e começar de novo.
ResponderExcluirNa verdade, alguns textos, aqueles menores e que saem mais de bate-pronto, eu também faço direto no computador, mas os textos maiores, aqueles em que eu tenho que pensar um pouco mais para elaborar, para organizar, eu prefiro no papel mesmo, tenho uma visão melhor do que o texto irá se tornar.
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