Evoé, Meus Amigos! Evoé, Dionísio!

Voltei! Pãããta que o pariu!!! E, sim, lembrei de vocês, meus amigos Leitinho, Fernandão e Margá, em minha viagem de férias. Principalmente nas visitas que fiz a duas vinícolas. Mas não se ponham a pensar - a sonhar - que eu tenha trazido uns vinhões para vocês, que eu não tô aqui para bancar bebedeira de marmanjo. Lembrei de vocês, mais especificamente, dentro das dependências da vinícola Aurora - da qual eu nunca mais comprarei uma única garrafa, nem que esteja em oferta; em outra postagem, que pode sair ou não, conto o porquê -, ao passar defronte a uma estátua erigida em homenagem a Dionísio, o deus grego do vinho. Então, pensei : vou fotografar e publicar no Marreta, à guisa de um cartão-postal para os meus camaradas, daqueles que antigamente eram enviados pelo correio.
Eis Dionísio, meus amigos. Um homem pelado, artigo que tanto lhes agrada, e segurando uma pistola mole na mão, de fazer dó, condição com a qual tanto se identificam.
Aí, alguém poderá achar estranho - eu achei, de início -, até mesmo contraditório, um deus de pau mole, um imortal broxa, viver eternamente assim para quê? E, ainda por cima, não um deus qualquer, mas Dionísio, um dos doze olímpicos, um poderoso deus grego a compartilhar conosco, meros mortais, da fraqueza humana mais temida pelos machos das antigas, a paumolescência - os machinhos modernos até que nem a temem tanto, pois podem sempre se virar e quebrar o galho com o cu.
Pus-me, então, a matutar sobre motivos da triste e inofensiva pingola de Dionísio e da exposição pública de sua humilhante condição. Teria sido uma brincadeira, uma troça do escultor, do mortal que, por puro escárnio e maldizer, retratou em bronze o formoso deus, pois, como dizem, a vingança do anão é pisar na sombra do gigante? Em seguida, concluí que não, que a piroca mole de Dionísio não era fruto da inveja do mortal escultor, desse Fídias de araque, ou, pelo menos, não só dela.
Primeiro que Dionísio vive bebaço e todo homem sabe que implacável e cruel inimigo do pau duro o álcool o é. Segundo, e principalmente, acredito que a benga inerte da ébria divindade se deva ao, digamos assim, sistema de governo dos antigos deuses gregos. 
O povo grego não tinha seus fado e destino decididos por uma autocracia cosmogônica, por uma ditadura tirânica de um único deus que concentrava todos os poderes, feito o deus judaico-cristão. Nada disso. Zeus era o fodão, o manda-chuva, com ele ninguém se metia e ele metia em todo mundo, mas verdade seja dita : por preguiça ou por laivos democráticos - não esqueçamos de que a Grécia é o berço do conceito da democracia -, ele delegava poderes e responsabilidades, descentralizava o poder entre outras divindades. 
A cada divindade menor, Zeus conferia habilidades sobre-humanas necessárias ao bom desempenho de sua função, e só ao de sua função, não havia deuses polivalentes, ou a acumular cargos no panteão grego. Ares que, por exemplo, era o deus da guerra, nada sabia ou podia sobre as boas colheitas, responsabilidade de Deméter; Afrodite, gostosa que só ela, morreria de fome se tivesse que caçar uma única corça que fosse, que arco firme, flechas velozes e certeiras foram dons recebidos por Artêmis; Poseidon era o maioral dos oceanos, mas não tinha nenhuma ingerência sobre o Sol, departamento de Apolo; e assim por diante
Zeus governava numa espécie de presidencialismo, tinha até a Hera, a primeira-dama. Zeus era o presidente, os doze olímpicos (Poseidon, Ares, Hefesto, Hermes, Atena, Apolo etc) eram seus ministros, os parlamentares - deputados federais, estaduais e senadores - eram os deuses menores, os semideuses, geralmente filhos de Zeus com mulheres mortais, Eros (deus do amor), Esculápio (da medicina e da saúde), Morfeu (do sonho), Pan (dos bosques), Orfeu (da poesia), Héracles (da força e da bravura) etc etc.
Zeus fazia filhos pra cacete com mulheres mortais, pulava a cerca de montão, mas, justiça seja feita, nunca deixou nenhum deles desamparado, arrumava emprego para todos, sempre ajeitava uma boquinha, um cargo de confiança, uma mamata para eles no Olimpo. Um belo cabidão de empregos era o Olimpo, uma imensa repartição pública. Não admira que tenha ruído.
Ditas todas essas sandices, saio-me, agora, com a explicação para a benga mole do deus do vinho, livro a cara do bebum  : a Dionísio coube a habilidade do cultivo da uva e de sua transformação no abençoado vinho, e só essa; a Dionísio não foi dado o dom do pau sempre em riste. Tal parcela de seu poder e de sua graça, Zeus ofertou a Príapo, o deus grego da fertilidade e da paudurescência. Cada deus no seu galho.
Por isso, lembrando-me agora de uma outra amiga, a Jota, também muito chegada a um copo cheio, fica o conselho do Azarão para a mulherada : bebam com Dionísio, mas trepem com Príapo.

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3 Comentários

  1. Bem-vindo de volta. Agora estou profundamente desapontada com essa estátua de pau murcho, "uma puta falta de sacanagem" com o Dionísio. Sobre Príapo, não sei não, quando a esmola é muita o cego desconfia. kkkkk Além do mais ainda sou mais o Dionísio, na falta do pau pelo menos ainda sobra em sacanagem e birita. Curioso é que descobri que existe uma tal Confraria de Príapo, com sede em Caldas da Rainha, em Portugal. Não sei dos detalhes, mas desconfio de que quem seja o presidente da ordem, um tal Clóvis Basílio dos Santos rsrsrs.
    Em tempo: muito interessante a cadeia de raciocínio sobre política e mitologia.
    "J"

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  2. Voltou a mil, hem? Ri pra caramba do texto, muito bem sacado (engendrado). Muito bom mesmo. Os neologismos (paumolescência e paudurescência) então, são muito engraçados.

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  3. Pelo jeito, você voltou a mil. Muito engraçado esse texto, especialmente os neologismos "paumolescência" e "paudurescência". Ri pra caramba. Parabéns.

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