Volver

Vou revolver a terra amnésica
Das antigas desilusões,
Motores que sempre me impulsionaram,
Que sempre botaram tinta e bússola à minha pena,
Objeto tão leve em si
Mas dado a uso tão pesado e insustentável.

Vou sacar
Da minha gaveta de ossos,
Da minha urna de cinzas,
O meu revólver desmuniciado
Das velhas alegrias e alucinações
Com o qual eu me lançava à noite perigosa
- que nunca me ofereceu perigo -
Feito um xerife a fazer ronda por cidade-fantasma,
A atirar ao alto
Minhas balas de festa, de festim,
Que não matavam nem pardal
Nem ratazana nem solidão.

Vou volver aos mapas de ontem,
Caminhar de tênis furados
Por suas ruas de pergaminho amarelado-quebradiço
E rosas dos ventos desatinadas,
Pelas naftalinas das lágrimas 
Que ali secaram, cristalizaram.

E vou,
Na falta de absinto,
Me lembrar de você.
Que a mais púrpura papoula
E os girassóis da noite
Nascem dos canteiros fertilizados pela tristeza.

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