Em 2009, há exatos 10 anos, lá no início do Marreta do Azarão, eu escrevi um texto no qual me comparava a uma estrela morta, extinta, Eu Fui a Luz das Estrelas.
Escrevi que a imagem que as pessoas viam ou faziam de mim era tão-somente - já àquela época - minha luz residual, luz órfã e desmamada do ventre que a gerou. Que meu coração de plasma de hidrogênio há muito se vertera em dura pedra; que meu reator atômico há muito se esfriara, gastara todas as suas sete meia-vidas.
No espaço, as distâncias são, literalmente, astronômicas, de fazer suar e botar língua fora até mesmo a Luz, o Ligeirinho do Universo. A exemplo, se a estrela Alfa de Centauro, a mais próxima de nós depois do Sol, a milimétricos quatro anos-luz da Terra, explodisse hoje, morresse nesse exato momento, ainda a veríamos, a velaríamos, no céu noturno por ainda quatro anos. Até que o último fóton de seu último suspiro chegasse até nós. Só depois de quatro anos veríamos sua explosão e seu desaparecimento do firmamento.
Há dez anos, na época da criação do blog, eu já era - cada postagem ao longo desta década foi - a luz de um finado Sol, um fogo-fátuo que se desprende de um cádaver e lhe imita a forma de quando vivo.
No fim da postagem de 2009, deixei, provavelmente para mim mesmo, duas perguntas : Por quantos anos ainda refletirei essa imagem? Quanto ainda tenho de luz residual?
A resposta demorou ainda dez anos para me atingir. E ela é : agora! Não há mais o que ser visto de mim.
Esta postagem é o último lúmen peregrino solitário que sobrou de meu colapso, o último relampejar de meu último vaga-lume mantido em coma induzido.
"Não existe um último suspiro digno. Da mesma forma, não há um último texto digno e inspirado; se ele o fosse, não haveria o porquê nem a urgente necessidade dele ser o último."
20 Comentários
pô, azarão...há tempos que você anuncia o fim do "marreta" mas sempre toma um novo fôlego e mantém o blog vivo. gostaria que você repensasse a ideia ou , sei lá, publicar mais espaçadamente, com um intervalo maior para lapidar as ideias.
ResponderExcluirde toda forma, não tendo outro jeito, espero que os textos fiquem salvos para consultas futuras; se realmente for o fim deste projeto, saiba que ri e principalmente, aprendi muito por aqui; não lembro bem mas creio que conheci o "marreta" por volta de 2013. ótimo trabalho.
um cordial abraço e êxito nos teus novos projetos.
Cássio - Recife/PE.
Rapaz, eu é que agradeço a sua "fidelidade" e os comentários sempre elogiosos, mas eu não vinha ficando satisfeito ultimamente com a qualidade dos meus textos. De repente,isso pode mudar um dia. Veremos...
ExcluirGrande abraço e sorte pra você tb.
"Vai acabar é o caralho que vai!!!" Quem disse isso foi você (em 27/04/2019). Também disse em outro comentário "Vamos levando, Jotabê, vamos levando... sem muito compromisso de nada; principalmente com a gente mesmo".
ResponderExcluirCaralho! Agora sou eu quem vai dizer: primeiro foi a Jota, tirando de nós a possibilidade de ler seus belos e perturbadores poemas. E agora é você que quer nos deixar sem seu sarcasmo e humor afiado? A blogosfera está virando uma blogosfora, com blogs divertidos, interessantes e inteligentes pulando fora da "nuvem". Que merda! Eu até entendo o que está sentindo, pois vivi o mesmo em dois momentos distintos. E foi graças a seus comentários e aos da "J" que eu tive ânimo de continuar com o blog. Poderia ter continuado com o Blogson, mas depois de tanto ameaçar acabar com ele, achei que ficaria muito ridículo não cumprir a ameaça. Mas não contava com a chatice que se instalou em minha vida. E foi isso que me fez criar o Linguiça, um cover do Blogson. Você diz não ter mais nada a acrescentar, a dizer. Eu entendo isso e entendo muito mesmo. É como se o cérebro virasse uma laranja passada no extrator de suco. Mas, acredite, é uma sensação horrível imaginar que ninguém nunca mais comentará nada do que - ainda que espasmodicamente - vier a criar ou imaginar. Por isso, meu caro Ricardo Marreta, não se desespere se a luz do vagalume piscar mais espaçadamente. Apenas não queira esmagá-lo. Eu tenho andado meio ausente do blog pois resolvi (como já disse antes) fazer uma seleção do "melhor do pior". Isso tem tido um efeito calmante em minha ansiedade, pois releio coisas que provocam sorrisos em mim. E esse é o critério. A boca se abriu em sorriso? Está selecionado. E, acredite, talvez faça um livro (mais presunção, impossível!). É uma atividade idiota? Para quem tem o que fazer talvez seja (não é o meu caso). Mesmo assim, às vezes penso em alguma idiotice e jogo lá no Linguiça.
Deveria falar de você mas acabei falando de mim. O que queria dizer (retribuindo seus comentários) é isto: não pare, você tem "sustança", não prive seus leitores de seu (mau) humor ferino e engraçado. Faço novamente a sugestão: vá lá no início do blog e comece a ler o que escreveu. Se for atemporal e te deixar surpreso e feliz, republique no blog (eu e muitas pessoas nunca se aventuraram a explorar o Big Bang do Marreta). Não pare, porra! (mesmo que a última frase seja genial). Abraços.
Rapaz, nem tenho por onde começar a agradecer o comentário. Mas há tempos que eu não vinha mesmo satisfeito com a qualidade de meus textos. Mas continuarei a palpitar lá no seu blog.
ExcluirComo não tá satisfeito com a qualidade dos seus textos, Marreta? Pãaaaaaaata que pariu, eu queria escrever com metade da inspiração que o senhor escreve, sempre com vários temas diversos. Olha só para mim, esse mísero e derrotado macaquinho que vos fala, faz coisa de 1 ano e meio que não escrevo algo bom, e no meu caso não é falta modestia, é a real mesmo, quase não escrevi esse ano, se não fossem um gás e inspiração que gente como senhor que aceitou participar do blog, eu já tinha desistido da porra toda, é sério. Gosto dos seus textos justamente por eles serem ácidos e realistas, mesmo zombando consegue falar coisas sérias que os ditos "homens sérios" não conseguem. Vamos conversar, sei que sumi, mas tô de volta.
ResponderExcluirO fim é anúncio de grande retorno
ResponderExcluir"Tantas veces me mataron,
ResponderExcluirTantas veces me morí,
Sin embargo estoy aquí
Resucitando.
Gracias doy a la desgracia
Y a la mano con puñal,
Porque me mató tan mal,
Y seguí cantando.
Cantando al sol,
Como la cigarra,
Después de un año
Bajo la tierra,
Igual que sobreviviente
Que vuelve de la guerra.
Tantas veces me borraron,
Tantas desaparecí,
A mi propio entierro fui,
Solo y llorando.
Hice un nudo del pañuelo,
Pero me olvidé después
Que no era la única vez
Y seguí cantando.
Cantando al sol,
Como la cigarra,
Después de un año
Bajo la tierra,
Igual que sobreviviente
Que vuelve de la guerra.
Tantas veces te mataron,
Tantas resucitarás
Cuántas noches pasarás
Desesperando.
Y a la hora del naufragio
Y a la de la oscuridad
Alguien te rescatará,
Para ir cantando.
Cantando al sol,
Como la cigarra,
Después de un año
Bajo la tierra,
Igual que sobreviviente
Que vuelve de la guerra."
Cantando ao sol
Como a cigarra
Depois de um ano
Debaixo da terra
Que ressurge
Igual sobrevivente
Que volta da guerra.
Assim ressurgirás
Não se vá.
ResponderExcluirNão ainda.
Temos tanto a conversar.
Ainda tem tanto a dizer.
Sei que tem.
Se não soubesse, não lhe teria sugerido o blog.
Acredite : realmente não tenho mais nada a dizer, ou mais nada de novo, ou inspirado, ou original, para ser adicionado ao que eu já disse. Acredite.
Excluirhttps://www.revistabula.com/4968-as-12-melhores-plataformas-para-publicacao-de-livros/
ResponderExcluirReúna os pequenos contos, publique-os. Escreva o último pequeno conto. O Rubens casado com um filhinho...
ResponderExcluirO Rubens é estéril. Teve caxumba na adolescência e ela desceu para o saco.
ExcluirTaí um bom final para o livro de contos: o Rubens apaixona-se e se casa. Um dia a esposa dá a noticia de que está grávida (sem saber da história da caxumba)... O resto é por sua conta. Mas tenho certeza de que há outras crônicas e poesias que mereceriam outros livros (por isso te mandei o link).
ExcluirPorra, além de infértil quer que o Rubens seja corno? Pãããããta que o pariu!!!!
ExcluirDei uma olhada por cima nos links que me mandou; mais uma ideia a maturar. Embora os publique em menor quantidade que as crônicas, tenho um número muito maior de poemas; muitos ainda a serem passados a limpo, mas acho que desde que comecei a escrevê-lo, em 1989, devo ter atingido a marca dos 1000.
1.000 poemas? Pãããããta que o pariu!!!! O que quer que faça, uma coisa ficou clara: você terá muita diversão pela frente!
ExcluirJá ouviu falar de "The Last of Us", Marreta? Os vagalumes lá tem outro sentido.
Excluirnunca ouvi falar. e que sentido eles têm lá?
ExcluirÉ um futuro pós-apocaliptico, além de haver áreas de infectados, há áreas de quarentenas militarizadas, e há grupos de guerrilha. Os vagalumes são o maior deles. No jogo, é preciso levar uma garotinha para eles, atravessando o país, já que ela tem uma imunidade a infecção. Felizmente, tudo não é tão simples, o que torna uma das obras mais memoráveis que vi nos últimos anos, superando, inclusive, muitos filmes.
ExcluirZumbis de tobas bioluminescentes?
ExcluirQuase isso. Vou tentar fazer um post sobre.
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