O Azul e o Vermelho

Os gizes, o azul e o vermelho, estavam quase abraçados no fundo do escaninho quase vazio do velho professor, onde o que não é vazio, é inútil. Dois toquinhos de giz, a bem da exatidão, o azul e o vermelho, deixados ali por não serem mais manejáveis, suas aposentadorias compulsórias.
O azul : muito utilizado que foi para dizer das coisas do frio - que nem existe, que é um descuido do calor -, da água - que também nada tem de seus anis pigmentos, posta que incolor -, e do céu - que igualmente nada de tem de índigo, que é uma falsidade cromática; o azul é o giz do irreal, do idealizado, das promessas não cumpridas, da Matrix.
O vermelho : muito usado que foi para dizer das coisas do calor - que é mesmo infravermelho -, do fogo - encarnado que o é -, do sangue rubro-férreo, e, se em aulas de literatura, das paixões e dos amores de perdição - que mesmo ruborescem os seus infelizes portadores; o vermelho é o giz do palpável, do empírico.
Descansam os dois gizes, o azul e o vermelho, jubilados de suas funções. O vermelho, do cansaço real e justo, portanto finito e passageiro; o azul, da fadiga eterna do mito.

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